Reflexão

“Jamais seremos os mesmos”

“Feliz quem guarda as memórias mais queridas no livro
d’alma esculpidas, gravadas fundas em si”
Casimiro de Abreu

A canção “Meu Mundo Caiu”, lindamente interpretada pela saudosa Maysa, nunca foi tão atual. O mundo de cada um, o nosso mundo caiu, no plano dos sonhos mais banais aos ideais mais consagradores da alma humana – o mundo de qualquer um de nós caiu.

Jamais seremos os mesmos, nossa ave fênix interna sairá voando em busca da ressignificação de valores, outrora inarredáveis em nossos devaneios mesquinhos, como, também, procurará meio cambaleante algum porto seguro para depositar novas convicções.

A pandemia nos colocou cara a cara com nossas incertezas, derrubou a segurança de algumas emoções e, de certa forma, nos chacoalhou de angústias e temores que abalaram nossos alicerces.

Daremos o devido valor à conversa com amigos no barzinho da esquina; ao cheiro do perfume novo; ao abraço apertado no ente querido e, até mesmo, aos amores perdidos. Aprenderemos melhor a ser, a estar, a repaginar, a reviver, a lembrar, a solidarizar…tudo que era desvalorizado pela banalidade do gesto ou pela trivialidade do conteúdo irá nos ensinar alguma lição, ainda que tardia.

Leio pessoas indignadas nas redes sociais porque na França, devido a reabertura gradual do comércio, formaram-se filas em frente às unidades de uma famosa loja de roupas. Afinal, o mundo não ia mudar? A moça que enfrentou fila para comprar uma blusa nova ressignificou-se de alguma maneira? Sua frívola atitude lhe fará sair da loja e rever a torre Eiffel com um novo olhar? Não há respostas, como não temos mais nossas inabaláveis certezas.

A pandemia traz lições que insistíamos em não aprender. Nossa mente não descansa em refletir sobre conjecturas e projeções. Nossos corações já doem de tanta saudade do tudo e do nada e tal como ensina Chico Buarque “a saudade é o revés de um parto”.

Como seremos felizes sem as nossas certezas, que se tornaram “frágeis testemunhas de um crime sem perdão”? Não sabemos de nada, simplesmente não sabemos mais nada e as obviedades também nos abandonaram.

Jamais seremos os mesmos porque já não somos mais o que éramos. Voltaremos aos lugares de nós mesmos por lembranças e estaremos em outras sintonias.

A vida se reinventará e o “velho amor” ressurgirá. É como nas sábias palavras de Sêneca “Durante toda a vida é preciso aprender a viver”. Que assim seja! Que aprendamos as melhores lições, pois jamais seremos os mesmos!

*Taciana Nogueira de Carvalho Pieroni
 Mestre em Direito e professora da Escola Superior Dom Helder Câmara

Humildade


Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.
Cora Coralina

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