30 de Setembro

30 de Setembro – São Jerônimo –

Sofrônio Eusébio Jerônimo nasceu em Estridão ou Estridônia, entre a Dalmácia e a Panônia (atualmente uma região entre Croácia e Hungria), entre os anos 340 e 347. Sua família era católica, culta e rica, e ele, filho único, teve a oportunidade de estudar em Roma, onde estudou Retórica, Oratória e Gramática com grandes mestres, além de Filosofia, e da dedicação à leitura de grandes autores, como Virgílio, Terêncio, Cícero e Platão.

Entregou-se a uma vida um tanto desregrada, mas, arrependendo-se, voltou à Fé da infância passou a se dedicar unicamente aos estudos dos textos santos. Foi batizado já adulto, como era costume na época, por volta dos 25 anos. Formou uma grande biblioteca. Seguiu para Tréveros, uma das mais conceituadas academias do Ocidente, para estudar Teologia. Em seguida, viajou para a Gália, atual França, onde se uniu a um grupo de monges. Formou ali uma comunidade dedicada ao estudo da Bíblia e das obras teológicas.

Por volta de 373-374 peregrinou à Terra Santa, mas uma doença o reteve durante muito tempo em Antioquia (atualmente Antáquia na Turquia), onde aprendeu o Grego. Seu temperamento forte e radical o levou a buscar uma vida eremítica no deserto de Cálcida, na Síria. Ali com muita dificuldade, esforço e empenho, aprendeu Hebraico com um convertido judeu. Sua vida ascética, de jejuns e orações, era tão extrema que quase morreu.

Depois de uns quatro anos, em 379, em Antioquia, aceitou o sacerdócio pelas mãos do bispo Paulino, mas somente após a promessa de que não teria trabalhos pastorais: sua vocação era a vida eremítica/monacal centrada na ascese, oração e estudos. Seguindo para Constantinopla, atual Istambul na Turquia, conheceu São Gregório Nazianzeno, que lhe estimulou ainda mais o amor pelo estudo das Sagradas Escrituras.

Chamado pelo Papa São Dâmaso I a Roma, em 382, para participar de um sínodo, acabou como seu secretário particular e incumbido por ele de traduzir a Bíblia para o Latim, uma vez que sua erudição, firmeza doutrinária e conhecimento do Grego e do Hebraico, as línguas originais das Escrituras, o tornavam particularmente apto a fazer este grandioso e necessário serviço. Iniciou o trabalho em Roma, em 383, e só o terminou em Belém da Judéia, entre 404-406, um período de cerca de 23 anos.

A versão final, conhecida por Vulgata (do Italiano “comum”, “corrente”, isto é acessível à leitura mais popular na Europa), embora não seja na íntegra de sua lavra, é a primeira tradução para o Latim, e a base para todas as traduções nas línguas modernas. Durante séculos foi a referência da Igreja, aprovada e oficializada no Concílio de Trento (1545-1563). E ainda hoje, embora revisada, é o texto oficial da Igreja de língua latina. Isto porque é extremamente fiel aos textos originais, além de apresentar riqueza de informações pertinentes.

Santo Isidoro de Sevilha (cerca de 560 a 636), na sua monumental obra Etimologias, diz que “Jerônimo era perito em três línguas, por isso sua interpretação é preferível à dos outros: ele apreende melhor o sentido das palavras e suas expressões são claras e transparentes. Além do que, sendo cristão, sua interpretação é verdadeira”.

Jerônimo ficou em Roma até 385, partindo depois para Jerusalém, acompanhado de Santa Paula e outros peregrinos. Depois de visitarem os lugares santos, ele viajou para o deserto da Nítria, Egito, visitando colônias monásticas, até voltar definitivamente para Belém em 386.

Santa Paula era rica, e pôde ajudar na construção de três mosteiros femininos e um masculino em Belém, no qual Jerônimo morou por 34 anos. Também foram erguidas hospedarias para os peregrinos, e ele se dedicou a este acolhimento, à oração, penitência e enorme atividade literária, além do ensino da cultura clássica e cristã.

A sua grande biblioteca, formada ao longo dos anos, crescera ainda mais. As controvérsias dogmáticas da época repercutiram em Belém, e Jerônimo, engajado nos problemas doutrinários da sua época, sempre defendeu vigorosamente a Fé, por escritos, sendo um polemista agressivo e eficaz. Os hereges pelagianos incendiaram seu mosteiro em 414, colocando sua vida e risco, e sucederam-se ataques dos Hunos, dos montanheses da Isáuria e dos piratas sarracenos, que obrigaram os monges a fugir temporariamente.

Seus últimos trabalhos foram relativos à organização do Ofício eclesiástico, com seus cânticos para o ano todo, por encomenda do Papa São Dâmaso I. Enviado a Roma de Belém, a composição foi aprovada pelo Sumo Pontífice e pelos cardeais, que determinaram a sua autenticidade perpétua. Depois disso, mandou construir para si um túmulo na entrada da gruta do sepulcro de Jesus. Faleceu na sua cela, perto da Gruta da Natividade, lúcido até o final, com idade entre 80 e 90 anos, no dia 30 de setembro, por volta do ano 420.

São Jerônimo é o padroeiro dos Estudos Bíblicos, e o Dia da Bíblia foi colocado no dia da sua morte. É também patrono das Escolas Superiores e Faculdades Teológicas. Além dos Santos Ambrósio, Agostinho e Gregório Magno, é também um dos quatro Padres da Igreja Ocidental com o título de Doutor da Igreja.

Sendo um autor de cultura enciclopédica, sua vasta obra inclui, além da Vulgata, biografias de 135 outros autores, cristãos, judeus e pagãos, no livro De Viris Illustribus, o Chronicon, sobre a História Universal desde o nascimento de Abraão até o ano 325 (uma tradução e reelaboração em Latim de uma obra em Grego), comentários, homilias, epístolas, tratados e cartas, muitas delas em correspondência com Santo Agostinho.

Seu temperamento e personalidade muito fortes gerava ódio nos inimigos e amor nos amigos, como por exemplo o carinho que lhe foi registrado por Santo Agostinho e pelo bem-aventurado Próspero. Um discípulo de São Martinho, Sulpício Severo, dele escreve: “… Jerônimo (…), cujos combates e lutas contra os maus eram incessantes.

Os hereges o odiaram porque ele sempre os atacou; os clérigos, porque sempre lhes repreendeu os crimes e a maneira de viver. Mas todas as pessoas de bem o admiravam e amavam. (…) Ele está sempre lendo, sempre no meio dos livros, sempre lendo ou escrevendo, não repousa nem de dia nem de noite.”

 De si próprio, São Jerônimo deixou registrado: “Dou graças a Deus de ser digno do ódio do mundo. Falam de mim como de um malfeitor, mas sei que, para chegar ao Céu, é preciso suportar tanto a boa quanto a má reputação”.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho



Reflexão:

Independentemente de qualquer outra obra, a Vulgata já daria a São Jerônimo um lugar especialíssimo entre os maiores escritores católicos e santos de todos os tempos, sendo para sempre merecedor de um agradecimento sem medida pela Igreja. O Papa São Dâmaso I, no seu tempo, percebeu o perigo gravíssimo que a falta de uma leitura correta da Bíblia poderia trazer, com deturpações monstruosas passando-se por “palavras de Deus”, e afastando as almas da salvação. Também hoje há inúmeras traduções bíblicas suspeitas, outras com erros graves mesmo, e portanto vale a pena o católico buscar com prudência o que lhe está sendo oferecido como inspirado pelo Espírito Santo. Como escreveu São Jerônimo, “Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras, ignora o poder e a sabedoria de Deus; portanto, ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a Cristo.” A formação, o estudo e o ensino da Doutrina, que obviamente remete à Bíblia, não é um luxo para os fiéis, mas sim uma necessidade fundamental, especialmente nos dias atuais, onde tão facilmente a divulgação de erros é não só permitida como fomentada. Enfim, se não na mesma forma dos jejuns, penitências e cansaços extremos de São Jerônimo, somos todos, os católicos, obrigados em consciência a viver, como ele, a radicalidade na vivência e na defesa da Fé, e para isso precisamos conhecê-la corretamente. A imensa caridade de São Jerônimo, na sua santa preocupação e santo empenho de escrever a Verdade para os irmãos, também se manifestou nos oferecimentos das suas aspérrimas penitências, e no carinho com que acolheu os peregrinos na Terra Santa, preocupando-se em providenciar hospedarias para eles. E belíssima é a sua declaração “…para chegar ao Céu, é preciso suportar tanto a boa quanto a má reputação.” – pois revela não apenas a sua disposição de enfrentar as injustiças por causa de Jesus, mas também a profunda humildade, que é a primeira e mais necessária das virtudes, para não se deixar levar pela vaidade, particularmente como intelectual que era, pois é notório que grandes pensadores e acadêmicos sofrem facilmente as seduções da vanglória. E não poucos, por causa disso, querendo transmitir não com fidelidade a Palavra de Deus, mas a sua própria “interpretação”, entregam-se a “releituras” das coisas da Igreja, cuja inspiração vem de outro espírito que não é o Santo.

Oração:
Senhor Deus, cuja perfeição é imutável, e que nos quisestes transmitir a Verdade do Vosso infinito amor, concedei-nos por intercessão de São Jerônimo a graça de, neste mesmo amor, buscar sinceramente o Vosso conhecimento, e com coragem enfrentarmos as asperezas, os antagonismos e as tentações do deserto desta vida, na certeza de que a fidelidade a Vós, na caridade também do apostolado aos irmãos, nos levará a repousar infinitamente junto ao lugar de onde constantemente nasceis para nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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29 de Setembro

29 de Setembro – São Miguel, São Gabriel e São Rafael
Os anjos são seres espirituais, com escolha livre e conhecimento perfeito e imediato da sua condição, de Deus e da Criação, no momento mesmo em que são criados. Portanto não têm relações familiares, pois sua criação é totalmente individual, e por terem imediatamente conhecimento pleno, devem escolher se obedecerão a Deus de forma definitiva, infinitamente.

A linguagem habitual chama de “anjos” aqueles que optaram por seguir a Deus; e de anjos caídos ou rebeldes, anjos do mal, diabos, demônios, satã, e outros, Lúcifer e os que, como ele, iniquamente rejeitaram o Criador e, por sua própria e irrevogável culpa, decidiram não aceitar jamais o perdão que o Senhor poderia, mesmo a eles, conceder, se quisessem se arrepender.

Os Anjos foram criados por Deus para a Sua Glória e serviço, de várias formas, umas mais diretamente relacionadas ao próprio Senhor e outros mais em relação à Criação. A Igreja ensina que há nove Ordens ou Coros de anjos, dentre os que obedecem à Trindade, organizadas em três hierarquias. Na primeira delas estão os Serafins, Querubins e Tronos; na segunda, as Dominações, Potestades e Virtudes; na terceira, Principados, Arcanjos e Anjos.

Cada hierarquia e ordem tem funções específicas dadas por Deus. A terceira hierarquia inclui os anjos que cumprem as ordens de Deus mais diretamente relativas aos seres humanos; assim os Principados dirigem-se aos reis, dioceses, nações, sendo protetores – e punidores – dos povos. Os anjos cuidam individualmente das pessoas: são os Anjos da Guarda, que Deus quis nos dar como amigos, conselheiros e protetores individuais. E os Arcanjos são mensageiros (significado próprio da palavra “anjos”) de Deus para missões especiais, de grande importância para a Humanidade.

As missões que nos foram transmitidas dos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel são diferentes. Os três pertencem ao grupo dos anjos que estão sempre diante do Senhor e têm acesso à Sua Majestade (cf. Tb 12,15), ou seja, sua dignidade é altíssima.

São Miguel é citado tanto no Antigo como no Novo Testamentos; uma interpretação também o identifica como o Arcanjo que precederá o momento imediato da ressurreição no final dos tempos (cf. 1Ts 4,16). O Arcanjo Miguel já era considerado pelos Hebreus como o príncipe dos anjos, chefe supremo do exército celeste, e protetor do povo eleito, símbolo da potente assistência divina para com Israel (cf. Dn 10,13.21;12,1 e Jd 1,9). E Ap 12,7-8 indica que ele combateu com seus anjos diretamente contra satanás e outros demônios, vencendo-o; como o seu nome em Hebraico, Mi-ka-El, significa “Quem como Deus?”, tradicionalmente entende-se que foi esta a expressão que, diante da revolta de Lúcifer contra Deus, Miguel usou ao enfrentá-lo.

Por isso também a Igreja venera São Miguel Arcanjo como seu protetor e defensor, ao longo desta vida e no final dos tempos (cf. Dn 12,1), não só pelo combate como também por ser advogado de defesa das almas acusadas constantemente por satanás (cf. At 12,10). Além de protetor e defensor, ele é conhecido como poderoso intercessor e o Arcanjo do Arrependimento e da Justiça, que irá “pesar as almas” depois da morte; e a Igreja afirma que ele conduz individualmente cada alma dos eleitos para o Céu, após o falecimento do corpo.

São Miguel apareceu na Itália em 490 no Monte Gargano, apresentando-se como protetor e prometendo sua intercessão (“Eu sou Miguel Arcanjo e estou sempre na presença de Deus. Venho habitar este lugar, guardá-lo e provar por meio de um sinal que serei seu vigia e custódio.”). Já a estátua em honra de São Miguel, no topo do Castelo Sant’Angelo, bem próximo do Vaticano, recorda a sua intervenção milagrosa para debelar a peste que assolava Roma em 590.

Em 1884, o Papa Leão XIII teve uma visão horrível, de legiões de demônios atacando a Igreja quase a ponto de destruí-la, e da proteção salvadora de são Miguel; por isso imediatamente compôs uma famosa oração* e a tornou obrigatória após todas as Missas, o que, inexplicavelmente, deixou de ser feito em tempos mais recentes. Depois disso, São João Paulo II, no santuário em Monte Gargano, afirmou em 1987, “…vim venerar e invocar o Arcanjo Miguel, para que proteja e defenda a santa Igreja num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.”

São Miguel Arcanjo é padroeiro da Igreja Católica, sendo inúmeros os santuários, mosteiros, catedrais, etc. A ele dedicados.

São Rafael, cujo nome Hebraico significa “Cura de Deus”, aparece no Antigo Testamento, com enorme destaque, no Livro de Tobias, que, como os livros de Judite e Ester, pertencem ao gênero literário midráxico.

Isto significa que a sua mensagem, verdadeira, é narrada de forma totalmente despreocupa de informações históricas e geográficas exatas, que servem apenas como uma ambientação necessária de suporte ao conteúdo relevante, no caso, de índole espiritual. Neste contexto, Rafael é aquele que conduz a Humanidade no caminho para Deus, intercedendo e agindo ativamente na cura dos seus males físicos e espirituais.

O enredo desta narrativa conta como São Rafael, assumindo a forma humana eu nome de Azarias, acompanhou e guiou Tobias numa perigosa viagem de ida e volta para recuperar um depósito de dinheiro do seu pai, Tobit, que havia ficado cego. Eles partem de Nínive (atualmente Mossul, no Iraque) para Ecbatana, na Média (provavelmente a atual Hamadã, no Irã, e, na narrativa, referente à capital do antigo Império Meda, capturado pelos persas em 550 a.C.).

No caminho, no rio Tigre, Tobias captura um peixe e, sob a orientação do seu companheiro angelical, guarda do animal o coração, o fígado e a bílis. Em Ragues, bem perto de Ecbatana, Azarias insiste para que parem na residência de parentes, onde Tobias conhece e casa com sua prima Sara, antes atormentada pelo demônio, e liberta pela fumaça produzida com o coração e o fígado do peixe. No retorno a Nínive, Tobias cura a cegueira do pai com o bílis do animal. Azarias por fim se revela: “Eu sou Rafael, um dos sete santos Anjos que assistem e têm acesso à majestade do Senhor. (cf. Tb 12,15).”

A missão de São Rafael está associada à guia e à cura das feridas da alma e do corpo, por isso ele é conhecido como “Medicina de Deus”, e é o Padroeiro dos sacerdotes e dos médicos, além de protetor dos viajantes (também os peregrinos desta vida rumo ao Céu), soldados e escoteiros; é tmbém o anjo da Providência, pois forneceu os elementos necessários para as curas de Sara e Tobit.

São Gabriel, cujo nome em Hebraico quer dizer “homem de Deus”, foi o responsável por algumas das mais importantes revelações de Deus aos homens. No Antigo Testamento dirige-se a Daniel para lhe esclarecer o significado de uma visão e para anunciar alguns eventos futuros (cf. Dn 8,15-18; 9,20-27). No Novo Testamento, primeiro anuncia a próxima e milagrosa gravidez de Isabel a seu esposo Zacarias, na concepção de São João Batista (Lc 1,8-20). Porém a sua mais destacada missão é o anúncio feito a Maria (Lc 1,26-38), sobre a Encarnação de Jesus, episódio do qual dependeu Dela a possibilidade da nossa salvação…

São atribuídas por teólogos outras aparições e mensagens de São Gabriel no Novo Testamento, como a explicação a São José de que a gravidez de Maria se dera pelo Espírito Santo (Mt 1,20-23); também seria Gabriel o anjo anunciando o Natal de Jesus aos pastores em Belém, aos reis magos que não retornassem a Herodes, a José que fugisse com a Sagrada Família para o Egito e que depois o enviasse de volta para Nazaré; seria o consolador de Jesus no Monte das Oliveiras e anunciado a Ressurreição de Cristo às mulheres piedosas, no Seu túmulo. Contudo, em nenhuma dessas manifestações está clara e explicitamente o nome de São Miguel.

 Principalmente tendo a função de mensageiro, São Miguel Arcanjo é por isso o Patrono das Comunicações e também Padroeiro da Rádio Vaticano.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Os anjos estão muito próximos de Deus, Quem é o mais próximo da nossa existência e alma; por isso os anjos podem estar também muito próximos de nós (o mesmo se aplica, ainda mais intensamente e pelo mesmo motivo, a Nossa Senhora…). Os três Santos Arcanjos que o Senhor nos deu a graça de conhecer pelo nome cuidam muito especificamente da Humanidade, e portanto estão mais evidentes na sua História, que nada mais é que a História da Salvação. A devoção e a invocação a eles é muito poderosa e recomendável. O próprio nome de São Miguel, “Quem como Deus?”, já nos oferece a dimensão da humildade e fidelidade amorosa a Deus, sugerindo assim, para nós, um caminho de vida no Seu seguimento. Atualmente, é de particular importância é a sua função de protetor da Igreja e dos fiéis, “… num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.”, como nos alerta dura e claramente São João Paulo II: a evidente crise na Igreja, entre o clero e os fiéis, destaca sem dúvida a falta de compromissos sérios com a Doutrina e a Tradição, com risco concreto de breves e futuras heresias, em função das “acomodações”, isto é, interesses escusos e respeitos humanos. A visão do Papa Leão XIII não foi uma brincadeira, mas uma evidência de como o diabo tenta destruir a Igreja de dentro para fora; por isso não é leviano pensar que a suspensão da sua ordem de rezar depois de cada Missa a oração que compôs, e que deveríamos, os católicos, rezar diariamente e independentemente de alguma norma – pois rezar aos anjos não pode ser proibido – já seja parte de uma ação maligna, de forma a enfraquecer a proteção que Deus nos dá. Segue a oração: *“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio; ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pela força divina, precipitai no inferno a satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.” Pela santa misericórdia de Deus e pelo Imaculado Coração de Maria, defendei-nos, São Miguel!!! A inefável missão de São Gabriel, no anúncio a Maria, valeu-nos a salvação eterna, e não há maior mensagem do que esta, excetuando a própria Palavra de Deus, Jesus. Mas ele continua nos avisando, através da participação nesta mesma Palavra, do que significa o Verbo que devemos aprender a conjugar. Tanto a sua mensagem a Maria quanto esta conjugação das nossas almas são muito simples e diretas, e talvez por isso não nos demos sempre conta da sua máxima importância, talvez acostumados demais com os estrondosos anúncios mundanos, que para se darem importância, apresentam-se, como muitas vezes o próprio diabo, de forma chamativa, espetacular e só de aparências: pois se não respondermos como Nossa Senhora, “Sim” ao chamado do Senhor, também simplesmente iremos para o inferno. O que estamos respondendo, diariamente como deve ser, ao chamado de Deus?? São Rafael Arcanjo nos guia pelas vias deste mundo até o Céu, oferecendo-nos sábios conselhos e nos lembrando sempre que só Deus pode nos curar plenamente a alma e o corpo. Tobit e Sara invocam a Deus a cura das suas misérias, trágicas misérias: respectivamente, a cegueira e a impossibilidade de união com o esposo. Bento XVI numa homilia em 2007, fala da cegueira de Tobit como a nossa cegueira para Deus; esta é, paradoxalmente, claríssima de ver na atualidade… e Sara estava em agonia porque, noiva sete vezes, não pôde sacramentar nenhuma união, já que o diabo Asmodeu, invejoso, matava os seus pretendentes antes da lua de mel. Sete é um número bíblico que indica plenitude: o diabo, por todos os meios, pretende matar a nossa união com o Divino Esposo. (Mas há um caminho no Qual ele não tem nenhum acesso: Nossa Senhora. Por isso nossa união com Ela é garantia de salvação, de “predestinação” salvífica, como ensina a Igreja). A questão é: pedimos a Deus que nos cure da cegueira de não vê-Lo, e da desunião infinita com Ele, com a mesma intensidade com que Tobit e Sara imploraram ao Senhor pelas Suas curas?? Porque Deus pode nos fazer enxergar, e pode unir os esposos, a alma e Ele, a Igreja e Ele, afastando o demônio. Pelos Sacramentos todos, incluindo Matrimônio e Comunhão, chega-se de volta ao nosso ponto de partida, depois da longa viagem que é a vida, ao Alfa e Ômega, início e fim, que é Deus (Nínive, de onde partiu Tobias – justamente para encontrar a união e um tesouro que fôra guardado – fica próximo ao rio Tigre, um dos que estão na descrição, com elementos simbólicos, do Paraíso Terrestre, cf. Gn 2,10-14). E como São Rafael, que é um dos “meios”, intermediários, “instrumentos” que Deus nos dá para a salvação, portanto a Providência e o que é necessário para ela, age para com Tobias? Além de o guiar pelo caminho e dar-lhe bons conselhos, nos oferece muito concretamente o que pode curar a alma e o corpo, nesta ordem: é através dos elementos do peixe, que temos contudo de apreender – pegar e guardar – apesar das dificuldades, que foi feita a fumaça pela qual Asmodeu foi afastado, e o remédio que curou a cegueira de Tobit. E que Peixe é esse, do qual o Coração e as “entranhas de misericórida” (cf. Mt 5,7 e Cl 3,12-17), abrasadas pelo fogo do Espírito Santo, elevam aos Céus um “bom odor” (2Cr 2,14-16) que afastam o mal, e cujo produto destas mesmas entranhas nos cura de não perceber, enxergar o Senhor? É Iēsous Christos Theou Yios, Sōtēr, “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, cujo acrônimo em Grego, Ichthys, forma a palavra “peixe”, o símbolo usado pelos primeiros cristãos para se identificarem com segurança no período das primeiras perseguições. É na Eucaristia, na Hóstia e no Vinho Consagrados, verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo, que encontramos a nossa salvação.

Oração:
Deus Onipotente, que criastes e constituístes os Santos Anjos para a Vossa glória e Vosso serviço, mas também para nos auxiliar, concedei-nos pela intercessão e ação dos Santos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel a Vossa proteção, os Vossos avisos e a Vossa cura de alma e corpo, de que necessitamos para chegar a Vós ao fim da jornada desta vida; e que também nós sejamos como anjos na ajuda aos irmãos, particularmente os Vossos Sacerdotes, Bispos e Papas, que pela sua missão própria e condição única de ministrar os Sacramentos, em particular a Eucaristia, nos conduzam santa e retamente para a salvação, como os bons pastores que devem ser. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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28 de Setembro

28 de Setembro – São Venceslau

Venceslau, nascido em 907, era filho de Vratislau, regente do ducado da Boêmia (atual República Tcheca), sábio e homem de caráter, e foi educado pela avó, Santa Ludmila, no Catolicismo. O pai morreu em 920 guerreando contra os húngaros, e antes de falecer lhe deixou expressamente o trono, apesar de Venceslau ter apenas 13 anos.

A Boa Nova de Cristo tinha chegado há pouco tempo na Boêmia, com São Cirilo e São Metódio, e não possuía ainda raízes fortes; por isso a corte era dividida, e a rainha, Draomira, era pagã, além de cruel e ambiciosa, como seu filho mais novo, Boleslau. A mãe assumiu a regência e iniciou a perseguição aos cristãos, expulsando os missionários católicos e declarando que o Catolicismo não era mais a religião oficial do ducado, e tentou paganizar Venceslau, mas sem sucesso.

Os representantes provinciais do ducado, porém, conseguiram estabelecer a vontade de Vratislau, depondo a impopular Draomira, e Venceslau assumiu o governo em 921, com 14 anos. Seu primeiro ato, a conselho da santa avó, foi restabelecer oficialmente o Catolicismo, promovendo a volta de missionários, especialmente monges beneditinos, e construindo igrejas.

Com raiva, Draomira contratou assassinos que estrangularam Ludmila com seu próprio véu.

Em pouco tempo, Venceslau conquistou a simpatia, confiança e apoio do povo, pela liderança e bondade cristãs; manteve-se casto de corpo e alma, sendo virtuoso e caridoso como poucos príncipes jovens. Rezava durante muitas horas e dedicou cuidado aos pobres, doentes, presos, viúvas e órfãos, a quem pessoalmente ajudava, consolava e transmitia a Fé.

Contestado por um opositor, o duque Radislau, que aspirava ao governo, enfrentou o risco de uma guerra fratricida; para evitá-la, propôs decidir a questão num duelo pessoal com ele, aliás muito mais capacitado para o combate do que Venceslau. Radislau aceitou, e quando estava a ponto de acertar o legítimo regente com uma lança, dois anjos apareceram e o mandaram parar. Radislau caiu do cavalo e, ao levantar-se, pediu perdão, jurando fidelidade ao seu senhor, no que foi imediatamente atendido. Seguiu-se um período de paz.

Em 929, para evitar uma outra guerra, Venceslau aceitou a soberania das pretensões do império germânico sobre a Boêmia, mantendo porém a sua autoridade no território do ducado. Seus adversários na corte, incluindo sua mãe e seu irmão, irados com esta atitude sábia e diplomática, decidiram matá-lo. Em 28 de setembro de 935, Venceslau foi convidado para a festa de batismo do seu sobrinho, filho de Boleslau, e em determinado momento dirigiu-se sozinho à capela para rezar. Draomira sugeriu então ao filho mais novo que este seria o momento apropriado, e Boleslau matou o irmão com uma espada ou um punhal.

Poucos dias depois Draomira morreu tragicamente. Boleslau I, “o Cruel”, assumiu o governo.

 São Venceslau é padroeiro da Boêmia, da Hungria e da Polônia, bem como dos exércitos tchecos, e herói nacional do seu povo.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho



Reflexão:

No mundo repaganizado de hoje, hipocritamente são criticados com azedume os crimes das gerações passadas, enquanto que, por motivos mesmo mundanamente muito menos significativos que o governo de um ducado, pais e mães matam os filhos, especialmente através do aborto, e filhos matam os pais e se matem entre si, com muito mais frequencia. Questões relativas ao uso de drogas são responsáveis por inúmeros assassínios entre familiares… e isto parece incomodar pouco a grande mídia e os responsáveis maiores pela sociedade, nos seus cargos governamentais. Mas os crimes hediondos de Draomira não são maiores do que o das mães abortistas, e Boleslau I assumiu o governo de um território impossível de manter perenemente às custas de perder o governo da própria alma imortal. A insensatez deste novo Caim almejava também a ambição pessoal, que levou o ducado a confrontos e mortes desnecessários, e não ao benefício da população e do país, como a sabedoria diplomática de Venceslau (que incluía o bom senso de compreender a impossibilidade de derrotar, à frente de um ducado, os exércitos de um grande império). Venceslau venceu antes de tudo o duelo pessoal na escolha entre o Bem e o mal, o mais importante, e trocou um ducado terreno e instável pelo Reino, Celeste e infinito; incerto é futuro dos assassinos de todos os tempos, e os responsáveis que os facilitam e/ou permitem agir, pois só podemos pedir, em sincera oração, pelas suas conversões antes da morte.

Oração:

Senhor, Deus da vida, concedei-nos por intercessão de São Venceslau a graça de guerrear contra o mal, pela oração e caridade, e contarmos com a Vossa proteção contra as lançadas das tentações que pretendem governar o território das nossas almas; dignai-Vos igualmente impedir, pela Vossa Misericórdia, a destruição muito possível das nações em conflito, e dos crimes abominavelmente covardes contra os nascituros. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.



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27 de Setembro

27 de Setembro – Vicente de Paulo – 
Vicente de Paulo nasceu em 1581, na cidade de Pouy, Landes, no sul da França, e foi batizado no mesmo dia. Foi o terceiro filho de um casal de camponeses muito fervorosos, e sua mãe educou os seis filhos no catolicismo. Já em criança, Vicente ajudava nos trabalhos familiares, principalmente nos cuidados ao rebanho.

O século da sua vida foi conhecido como um apogeu francês, destacando-se o reinado de Luís XIV, o “Rei sol”, cuja magnificência da corte ficou famosa. Mas na verdade a maior parte da realidade francesa era caracterizada por crianças abandonadas, prostituição, pobreza, guerras e revoluções internas, ignorância religiosa nas áreas rurais e lamentável estado de boa parte do clero.

Os pais de Vicente muito se esforçaram para que ele pudesse ter o melhor estudo possível, ao perceberem sua potencialidade, e com a ajuda de um benfeitor, o advogado Comet, ele teve a oportunidade de estudar com os franciscanos, e ao mesmo tempo educar os filhos dele. Aprendeu Humanidades na cidade de Dax, e em 1596, aos 15 anos, foi estudar Teologia em Toulouse, para o que seus pais venderam uma junta de bois. Ordenou-se sacerdote em 1600, e começou a dar aulas particulares para complementar a renda.

Uma senhora, viúva, que gostava das suas pregações e sabendo da sua difícil condição financeira, deixou-lhe em herança uma propriedade e certa quantia de dinheiro, que estavam só os cuidados de um comerciante na cidade de Marselha. Vicente prontificou-se a viajar até lá para receber e doar o valor total aos pobres, e na volta, embarcando de Marselha para Narbonne, seu navio foi capturado por piratas turcos, que o venderam como escravo em Túnis, na Tunísia, África.

Foi revendido a outro homem, que ao morrer o incluiu como herança para um sobrinho fazendeiro. Este era um ex-católico que, por medo da perseguição muçulmana, adotara o islamismo; uma das suas três esposas encantou-se com as músicas que Vicente cantava ao rezar, e pediu-lhe que explicasse o significado do que dizia.

Assim evangelizada, repreendeu o marido por ter abandonado aquela religião… o patrão se arrependeu e voltou à Fé católica. Em 1607, este homem e Vicente foram juntos para a França, escondidos dos muçulmanos, chegando a Paris em 1608. Em Avignon, o vice-legado do Papa concedeu de volta a Vicente as suas credenciais sacerdotais, e seu companheiro entrou para a vida monacal.

Nomeado capelão da rainha Margarida (Margot) de Valois pelo rei Henrique IV, em 1610, assumiu também a função de esmoler, isto é, distribuidor de esmolas, e a assistência espiritual de um hospital. Em 1612 o bispo de Paris o nomeou vigário de Clichy, um bairro na periferia da cidade. Dois anos depois, recebe a função de educar os filhos do casal Gondi, uma das mais influentes famílias francesas, bem como do cuidado espiritual e pastoral dos serviçais da família, sete mil pessoas em inúmeras propriedades em solo francês.

Esta experiência lhe proporcionou constatar, por quatro anos, o abismo material e social, além do espiritual e moral, entre os mais e menos favorecidos. Desenvolveu-se nele assim a base do futuro carisma vicentino no modo de atender às necessidades dos mais pobres.

Em 1617, numa dessas propriedades, em Folleville, constatando a carência espiritual da população quanto à confissão, a própria marquesa de Gondi, sabendo da situação por Vicente, lhe pediu que orientasse os católicos do local para que buscassem o Sacramento da Reconciliação, e não se perdessem as almas. Depois de um famoso sermão, a procura pelo confessionário foi tão grande que se fez necessária a ajuda de outros padres da região. A marquesa também disponibilizou muito dinheiro para que Vicente instituísse uma obra de pregação quinquenal aos camponeses das suas terras.

Muito tocado pelas ocorrências em Folleville, e desejando um auxílio mais próximo junto à população, ele passou a trabalhar como pároco na periferia de Châtillon-le-Dombes, onde uma nova situação aconteceu, sendo também importante para definir os moldes da sua obra futura. Toda uma família encontrava-se doente, sem que pudessem cuidar uns dos outros, e passavam fome e necessidades. Ao saber disso, Vicente pediu, na homilia, ajuda para eles. De modo surpreendente, muitas senhoras providenciaram alimento e companhia à família, e Vicente determinou-se a organizar esta forma de caridade: surgiu a instituição das “Servas dos Pobres”.

Vicente voltou à casa dos Gondi, buscando mais auxílio para os camponeses. Nas suas relações com a nobreza em geral, soube tocar-lhe o coração para o cuidado dos mais pobres. Em seguida, foi para Paris, onde eram muitas as carências, onde repetiu e ampliou a atuação das senhoras de Châtillon-le-Dombes: as Senhoras da Caridade, Damas da Caridade, Confraria das Irmãs da Caridade ou Confraria da Caridade, hoje conhecida internacionalmente como Associação Internacional de Caridades, iniciada em agosto de 1617, foi oficializada em dezembro do mesmo ano, e era formada por senhoras de posse que tinham tempo e recursos disponíveis para atender os menos favorecidos. As confrarias, rapidamente, se espalharam pelo país.

Em 1625 Vicente, também em Paris, fez uma nova fundação, a Congregação da Missão (Padres da Missão), também conhecidos como Padres Lazaristas (o nome vem da sua primeira casa, o Leprosário de São Lázaro), com o auxílio financeiro da família Gondi. Seu carisma é voltado principalmente para a evangelização nas áreas rurais, e fazem o voto obrigatório de apostolado com os pobres, em qualquer lugar; atuam por missões populares, e também cuidam da direção de seminários, pois uma outra grande preocupação de Vicente era a boa formação dos padres, que por isso também criou seminários.

Assim, às terças feiras, pregava para os seminaristas, e recebia sábios e nobres que buscavam conselhos. Sempre que possível, de outubro a junho, todos os anos, Vicente ia pessoalmente pregar nas áreas rurais. Em Paris fomentou ardentemente a prática dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (nos quais se preparara em anos anteriores), principalmente entre o clero.

Em 1633 Vicente fundou outra congregação feminina, inovadora para a época, que em tempo recorde obteve a aprovação do Bispo de Lyon. As Filhas da Caridade (“Irmãs Vicentinas”), ainda hoje a maior família religiosa feminina da Igreja, não atuam como monjas dedicadas à contemplação monástica, mas “terão por mosteiro as casas dos enfermos, por cela um quarto de aluguel, por capela a igreja das paróquias, por claustro as ruas da cidade ou as salas dos hospitais, por clausura a obediência, por grades o temor de Deus e por véu a santa modéstia”. Este modo de atuação visava cooperar e ampliar os trabalhos das Damas da Caridade, e teve por cofundadora Santa Luísa de Marillac.

São Vicente de Paulo faleceu em Paris, aos 27 de setembro de 1660, com a idade de 79 anos, tendo participado ativa e decisivamente na reforma católica do século XVII na França. Seu corpo, exumado 52 anos depois, foi encontrado incorrupto, e está exposto à visitação na Capela de São Vicente de Paulo, em Paris; o coração está conservado em um relicário na Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Ele é o patrono de todas as Associações católicas de caridade, e também, na França, da Assistência Pública.

 As três fundações de São Vicente inspiraram muitas outras com o seu carisma, de modo a Família Vicentina é o conjunto de congregações, organismos, movimentos, associações, grupos e pessoas que, de forma direta ou indireta, prolongam no tempo a sua obra de dedicação no serviço aos pobres. Está presente nos cinco continentes, com mais de 225 ramos incluindo religiosos e leigos. Os mais conhecidos são, além das três fundações originais, a Sociedade de São Vicente de Paulo (também conhecida por Conferências de São Vicente de Paulo ou Conferências Vicentinas, para leigos, fundada pelo beato Frederico Ozanam em 1833, Paris), a Associação da Medalha Milagrosa, a Juventude Vicentina Mariana e os seculares Lazaristas.

A Família Vicentina cuida dos abandonados, órfãos, idosos, inválidos, doentes, moças em perigo, sendo talvez a instituição católica e cristã, dedicada à caridade pura, de maior extensão geográfica e no tempo, agindo em leprosários, orfanatos, hospitais, escolas, manicômios, asilos, etc.. Os vicentinos possuem um imenso acervo escrito do seu fundador, embora ele não tenha se dedicado ao labor literário; são correspondências (só 400 forma para Santa Luísa de Marillac) e documentos redigidos por ele ou alocuções e conferências suas anotados por outros.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Como deixa evidente a Família Vicentina, dentro da Igreja, todos podem ser caridosos, de inúmeras formas muito concretas, sendo que as pessoas abastadas, sem deixarem de o ser, podem enriquecer também no espírito: a experiência de São Vicente de Paulo evidenciou não apenas a solicitude amorosa de senhoras camponesas como também a sincera preocupação da marquesa Gondi e outras nobres, não apenas com o material, como também pelas necessidades espirituais dos mais desfavorecidos financeiramente: aliás, o primeiro incentivo que ela fez a São Vicente foi para incrementar as confissões, de modo a salvar almas – a mesma e primeira preocupação dele no cuidado com os pobres, a salvação das almas. A Igreja nunca pode ser entendida como um mero veículo de mitigação de carências materiais, mas sim como a legítima anunciadora da Boa Nova da salvação trazida por Jesus, cuja exigência é a conversão das almas para Deus e assim, como consequência e não premissa, externa seus bons frutos também pela caridade material. A caridade bem organizada, como percebeu São Vicente, realiza melhor a sua função, mas é a miséria espiritual que deve ser atendida primeiro, como ele fez atendendo às confissões. Na História da Igreja, o destaque às contribuições femininas mostra, pela primeira vez no correr dos séculos, a verdadeira e correta valorização das mulheres, começando obviamente por Nossa Senhora. A mulher, pela sua própria feminilidade, querida e portanto expressamente criada por Deus, é algo sublime e sem dúvida precisa ser corretamente entendida, algo que desde Eva, e muito claramente nos tempos atuais, o diabo quis desfigurar, exatamente porque sua missão específica constitui a base da santa organização natural que Deus quis para o ser humano: de modo que, tentando primeiramente Eva, por sua influência sobre Adão, e atualmente incentivando uma “igualdade” mentirosa e impossível através de muitos e diversificados meios, o demônio induz ao pensamento de que as mulheres não devem se preocupar em ser mães, esposas, as principais responsáveis pelos lares, mas devem “competir” com os homens em outras atividades, particularmente as laborais – supervalorizando o dinheiro (e a sua “liberdade”) em detrimento da família – e assim obtendo o evidente e facilmente observável caos social presente, com os flagelos do divórcio, das uniões apenas civis e não abençoadas por Deus, da recusa a gerar filhos que chega ao assassinato por meio de abortos. Ora, a célula da sociedade é a família, e a base da família é a esposa; se esta não quer assumir o que a caracteriza como mulher, como mãe, um dom de geração de vida infinita exclusivo, que só é compartilhado com Deus, como ter famílias e portanto sociedades santas e equilibradas? O diabo é muito mais inteligente do que o ser humano, e da mesma forma que agiu com Eva, age e agirá até o final dos tempos: apresentando o mal como um bem, e o Bem como um mal, procurando enganar as pessoas de modo que, além de perderem o Paraíso Terrestre, não cheguem ao Paraíso Celeste… poderia Deus, que é perfeito, criar a mulher, caracterizada particularmente pela maternidade, de modo a que fosse infeliz gerando filhos?? Esta é a vocação natural da mulher, embora Deus as chame também, conforme a Sua sabedoria, para as vocações religiosas; ocorrem ainda exceções de vida nas quais, por circunstâncias diversas, os homens e mulheres nãos se casam sem terem o chamado para a vida consagrada: exceções, não a regra, e muitas vezes não por escolha pessoal, mas devidas a problemas sérios. O católico que não compreende isso, e eventualmente aceita ideias diferentes avassaladoramente despejadas por ideologias contrárias e irreconciliáveis com a Fé, devem se questionar seriamente sobre o seu conhecimento e fidelidade ao ensinamento de Deus e da Sua Doutrina, pois colocam suas almas em imenso risco – e na prática podem já estar agindo de forma herética.

Oração:

Senhor Deus, que na Vossa infinita bondade e sabedoria criastes os homens e as mulheres para viverem na alegria da caridade, concedei-nos por intercessão de São Vicente de Paulo a proteção contra os piratas de alma, para que, sendo Vossos escravos, possamos libertar-nos a nós mesmos dos enganos do pecado e auxiliar os irmãos a fazerem o mesmo, na prática da caridade a todas as suas necessidades; e assim, tendo o coração preservado no relicário das virtudes, tenhamos o corpo e a alma incorruptos no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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23 de Setembro

23 – São Pio de Pietrelcina – 
Francisco nasceu no dia 25 de maio de 1887, em Pietrelcina, Itália. Aos dezesseis anos, entrou no noviciado da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, onde vestiu o hábito dos franciscanos e tomou o nome de Frei Pio.
Depois da ordenação sacerdotal, em 1910, no Convento de Benevento, Padre Pio, como era chamado, ficou doente, tendo que voltar a conviver com sua família para tratar sua enfermidade, e lá permaneceu até o ano de 1916. Quando voltou, nesse ano, foi mandado para o Convento de São João Rotondo, lugar onde viveu até sua morte.

No dia 20 de setembro de 1918, recebe os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo em suas mãos, pés e no costado esquerdo, convertendo-se no primeiro sacerdote estigmatizado.

Padre Pio passou toda sua vida contribuindo para a redenção do homem, cumprindo a missão de guiar espiritualmente os fiéis e celebrando a Eucaristia. Para ele, sua atividade mais importante era, sem dúvida, a celebração da Santa Missa.

Era solicitado no confessionário, na sacristia, no convento, e em todos os lugares onde pudesse estar, todos iam buscar seu conforto, e o ombro amigo, que ele nunca lhes negava seu apoio e amizade. A todos tratou com justiça, lealdade e grande respeito.

Durante muitos anos, experimentou os sofrimentos da alma, em razão de sua enfermidade e ao longo de vários anos, suportou com serenidade as dores das suas chagas. Padre Pio faleceu no dia 23 de setembro de 1968, aos oitenta e um anos de idade.  
Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR 

Reflexão:
Padre Pio passava o dia e grande parte da noite conversando com Deus. Ele dizia: “Nos livros, procuramos Deus; na oração, encontramo-Lo. A oração é a chave que abre o coração de Deus”. Também aceitava a vontade misteriosa de Deus em nome de sua infindável fé. Sua máxima preocupação era crescer e fazer crescer na caridade.

Oração:
Amado São Pio de Pietrelcina, você carregou em seu corpo os sinais da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, reze a Deus por nós, assim poderemos aceitar as pequenas e as grandes Cruzes da vida, e todo o mundo poderá transformar o sofrimento individual em vínculo seguro que nos liga à Vida Eterna. Amém.
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22 de Setembro

22 de Setembro – São Maurício  – 
Em meados do século III, sob o imperador romano Galiano (entre 253-268), houve um período de “pequena paz para a Igreja”, no qual as perseguições aos católicos foram interrompidas, exceto por episódios isolados, e que perdurou para além do seu governo. Em 284 assumiu o império Dioclesiano, que decidiu tornar Maximiano Hercúleo seu coimperador no Ocidente, enquanto ele cuidava do Oriente.

Maximiano teve que enfrentar a revolta de Caráusio, um seu comandante militar na região da Gália Bélgica (atualmente regiões da Bélgica, Luxemburgo, norte da França, sul da Holanda e oeste da Alemanha), e entre as tropas que mobilizou estava a Legião Tebana ou Tebaica, por sua origem em Tebaida no Egito.

Toda uma coorte (mil homens) desta legião era composta por católicos, comandados por Maurício. Neste período, cerca do ano 286, pouco anterior à chamada Era de Dioclesiano ou Era dos Mártires (295-310), as cruéis perseguições deste imperador aos cristãos ainda não haviam começado, e eles ocupavam vários cargos, inclusive militares.

O exército de Maximiano atravessou os Alpes e chegou ao vale do rio Ródano, na atual Suíça. Para descansar a tropa, foram decretados três dias de festas em Octodorum, para homenagear os deuses do império, o que incluía sacrifícios a eles. A guarda avançada, com Maurício e companheiros, acampou em Agaunum, uma aldeia a cerca de 24 km do Lago de Genebra e a cinco km da cidade.

Eles se recusaram a sacrificar aos deuses pagãos, e Maximiano, irritado, mandou dizimar parte destes legionários para obter obediência. Como os demais permaneceram firmes na recusa, um segundo massacre foi ordenado.

Novamente Maximiano intimou os sobreviventes à apostasia, mas a resposta de Maurício e seus oficiais (Exupério, Cândido, Vital, Alexandre, Vitor, Inocêncio) foi contundente: “Somos teus soldados e não menos servidores de Deus. Sabemos perfeitamente a nossa obrigação como militares, mas não nos é lícito atraiçoar o nosso Deus e Senhor. Estamos prontos a obedecer a tudo que não contrarie a lei de Jesus Cristo Nosso Salvador.

Fomos testemunhas da morte dos nossos companheiros e não nos queixamos; antes, com eles nos congratulamos. Tuas ameaças não provocam sentimentos ou planos de rebelião de nossa parte. Estamos com as armas nas mãos, mas delas não faremos uso para nos defender. Antes queremos morrer inocentes do que viver culpados.”

Diante disso, o imperador mandou o exército exterminar os soldados restantes, que esperaram pacificamente os golpes de espada, dobrando as cabeças.

 O local do massacre no campo de Agaunum, à beira do Ródano, foi historicamente identificado como a cidade de Martigny, nome derivado de “martírio”. Uma igreja, só descoberta por volta de 1893, foi ali erguida em honra destes mártires, e no século seguinte construiu-se uma basílica no lugar da execução. Em 520, o rei Sigismundo da Borgonha lá edificou o Convento de São Maurício de Agaunum, onde são veneradas as relíquias dos soldados mortos ainda hoje, e cujo deu origem à cidade de São Maurício, em Valais, na Suíça.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
São Maurício e companheiros, militares exemplares, nos mostram que todo tipo de atividade e profissão humana honesta é compatível com a Fé católica, e que o verdadeiro combate é somente contra o que afasta de Deus. Portanto, é sim possível construir uma vida nova e venerável sobre a morte do pecado; não só possível, como obrigação, se de fato desejamos servir ao Senhor dos Exércitos (e.g. Sl 45,12). Não nos é permitido ficar apenas acampados à margem das águas do Batismo, é preciso inclinar a cabeça e o coração às ordens do Senhor, o que muitas vezes vai exigir sacrifícios, não raros originados pelos que estão lutando nesta vida ao nosso lado. Mas é preferível uma legião de suplícios, penitências e abnegações no mundo, por causa de Cristo, do que ter decepada de nós a Sua salvação.

Oração:
Deus Todo-Poderoso, Rei dos Reis, a Quem “não agradam os sacrifícios”, mas sim “um coração contrito”, concedei-nos por intercessão de São Maurício e companheiros não apenas a retidão e competência nos nossos ofícios, mas também a generosidade de ofertar plenamente a vida ao Vosso serviço, em qualquer circunstância, para alcançarmos a vitória prometida aos que “combaterem o bom combate” da Fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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21 de Setembro

21 de Setembro – São Mateus –

Levi, filho de Alfeu (Mc 2,14), era galileu, segundo a Tradição, e provavelmente solteiro, uma vez que nenhum dos Evangelhos (isto é, os sinóticos, que mencionam a sua conversão) fazem alusão a que tenha deixado família para seguir a Cristo. Morava em Cafarnaum, uma das cidades mais florescentes da Palestina, à beira do Lago Genesaré, onde Jesus pregou muitas vezes e onde fez muitos milagres.

Levi era rico por causa da profissão que exercia, como cobrador (ou coletor) de impostos para os romanos, intermediados pelo tetrarca (governante) judeu Herodes Antipas. Sua função era ter “comércio público e banco aberto para passar letras de câmbio, expedir mercadorias, arrecadar tributos e passá-los a Roma”. Ou seja, os impostos que os judeus pagavam eram entregues aos conquistadores estrangeiros, implicando em financiar quem os subjugava à força. Por isso tais cobradores, denominados depreciativamente de publicanos (“pecadores públicos”), eram socialmente desprezados como colaboracionistas detestáveis.

Os judeus mais observantes (fariseus) consideravam um absurdo que homens do povo eleito cobrassem tributos para um poder conquistador, e além disso pagão; “o pagamento do tributo ao estrangeiro era um ato ilícito, uma coisa proibida pela Lei, um verdadeiro sacrilégio; e, portanto, o que colaborava com esse sacrilégio fazia uma traição à pátria, associava-se aos ímpios, vendia-se aos gentios, e era mais execrável do que eles. Sua condição só podia comparar-se à dos criminosos e das prostitutas”.

Levi era um notório pecador no entendimento judaico (diferente da concepção católica), isto é, “significava antes uma impureza legal ou por descuido das prescrições farisaicas rituais ou por desempenhar um ofício proibido”. De resto, muitos publicanos eram desonestos e exploravam o povo de forma ilegal, de modo que não havia simpatia por eles. Por outro lado, se os fariseus, especificamente, consideravam os cobradores de impostos como pecadores, a profissão em si era lícita, e os havia judeus praticantes e de boa-fé, como fica claro na resposta de São João Batista aos que lhe perguntaram como fazer para se salvar: ele responde apenas que sendo honestos no trabalho, e não mudando de atividade (cf. Lc 3,12-13).

Não se sabe se Levi era um cobrador honesto ou desonesto antes de seguir a Jesus. Estava sentado no seu posto de cobranças em Cafarnaum, à beira do lago (Mc 2,13-14), onde eram recebidas mercadorias e feitos os pagamentos, e Jesus, vindo de fazer um estrondoso milagre na cura de um paralítico cujos amigos haviam descido do teto para a sala onde Ele estava (Lc 5,17-26), lhe disse: “‘Segue-me!’ E, deixando tudo, ele se levantou e começou a segui-Lo” (Lc cf. 5,27-28).

Vivendo em Cafarnaum, era muito provável que Levi já conhecesse Jesus, ainda antes de converter-se, ao menos por ter Dele ouvido falar, mas se não, a sua conversão instantânea não seria surpreendente, dado o poder de atração que o Senhor tinha sobre os corações, como comenta São Jerônimo sobre esta passagem; e, honesto ou desonesto, é maravilhosa e exemplar a prontidão da sua obediência. Por Cristo, imediatamente deixou, inacabadas, suas tarefas para este mundo, sem recear punições, isto é, por amor a Deus, o único motivo certo, foi capaz de instantaneamente abandonar as atividades mundanas e os respeitos humanos. E a partir daí, nunca voltou atrás, mas permaneceu grato ao Mestre, e perseverou no Seu seguimento.

A medida da gratidão de Levi ao Senhor é indicada imediatamente depois nos Evangelhos, pois O convida para um grande banquete em sua casa, que foi aberta também aos discípulos de Jesus e a outros publicanos e pecadores – o que indica não apenas a consideração e amor ao Mestre mas igualmente a vontade de levar a Ele mais pessoas, numa forma já de confraternização e apostolado… ocasião na qual Jesus certamente os acolheu, e ainda ensinou tanto a fariseus quanto aos discípulos de João Batista (cf. Mt 9,10-17).

A mudança de vida era frequentemente acompanhada, na época e na cultura local, da mudança de nome, e Jesus mesmo renomeou Simão como Pedro (cf. Mt 16,17-18). Uma feliz passagem da “Legenda Áurea” de Jacopo Varazze (biografias de santos, escritas no século XIII) comenta que “‘Levi’ quer dizer ‘retirado’, ‘colocado’, ‘acrescentado’, ‘incorporado’. Ele foi a) retirado de seu posto de cobrança de impostos, b) colocado entre os Apóstolos, c) acrescentado à comunidade dos evangelistas e d) incorporados ao catálogo dos mártires.”; e a “transladação” deste nome foi para “Mateus”, que significa “presente”, “dádiva” ou “dom de Deus”, o que de fato este evangelista passou a ser.

São Mateus acompanhou Jesus por quase todo o período de três anos da Sua vida pública, e certamente empregou os seus antigos bens em boas obras, no auxílio aos pobres e aos discípulos. Foi assim testemunha direta do que depois relatou no seu próprio Evangelho. Aliás, nem Mateus nem Lucas, quando o mencionam nas listas dos Apóstolos, o chamam de “publicano”, mas somente ele mesmo, indicando com humildade como se sabia pecador. Seu nome é apenas citado ainda nos Atos dos Apóstolos, não havendo sobre ele outras notícias nas Escrituras.

Além da sua missão como um dos 12 Apóstolos, sua grandiosa tarefa foi justamente escrever o primeiro dos quatro Evangelhos, de acordo como que havia dito Jesus: “o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará tudo, e vos trará à memória tudo quanto Eu vos disse” (Jo 14,26). Este registro, desejado por Deus para chegar às futuras gerações, era transmitido oralmente nos primeiros anos da Igreja, mas surgiu a necessidade natural – sem se ignorar, desprezar ou esquecer a Tradição – de notas escritas. Mateus escreveu para os cristãos de origem judaica, e por isso o fez em Aramaico, não em Grego, ressaltando para este público específico que Cristo é o verdadeiro Messias, realizando plenamente as promessas e profecias do Antigo Testamento, e oferecendo provas da divindade de Jesus.

O Evangelho de Mateus desde o início foi o mais utilizado, o mais citado e o mais comentado pela Igreja, sendo conhecido por todos os autores cristãos do século I e citado expressamente como de sua autoria pelos principais historiadores dos séculos II e III. É chamado de “Evangelho Católico”, porque traz os textos mais importantes sobre o primado de Pedro (Mt 16,17-19), a jurisdição na Igreja (Mt 18,18) e a missão universal de evangelização de todos os povos (Mt 28, 19-20). Junto aos Salmos de Davi e as Epístolas de São Paulo, são os textos mais lidos na Igreja.

Com a perseguição aos Apóstolos (cf. Jo 16,2), depois da Ascensão de Jesus, estes se dispersaram por várias partes, levando a Palavra de Deus. Parece certo que Mateus foi para a Palestina, mas informações posteriores não são tão claras. São citadas Pérsia, Síria, Macedônia, e a Igreja Copta da Etiópia proclama desde sempre ter sida fundada por São Mateus, mas disso não há comprovação cabal. Uma tradição diz que morreu mártir, porém também não existem confirmações fidedignas. Há relíquias suas na Catedral de Salerno, Itália.

São Mateus é o padroeiro dos banqueiros, alfandegários, contabilistas, cobradores, consultores tributários e da Guardia di Finanza italiana, de modo a favorecer a união do fiel exercício do dever para com o Estado com o fiel seguimento de Cristo, nesta instituição.                                                                                                                                                                                                                         Colaboração: : José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Pode-se resumir na atitude de São Mateus a essência de toda a vida católica, e de todo o ensino da Igreja: abandonar o mundo e seguir a Cristo. Normalmente, porém, a simplicidade desta formulação é inversamente proporcional à sua execução, apegados, como tendemos a ser, aos atrativos deste mundo… o que apenas exalta a grandiosidade do coração deste Apóstolo, que não hesitou na sua decisão e ação. Qualquer que seja, apesar de tudo, o tempo e o esforço necessário, o fundamental é não ficar sentado às margens deste mundo, mas levantar-se espiritualmente, elevar a alma para seguir Jesus, porque, Ele, vai para o Alto. Por outro lado, atitudes simples como ser honesto na profissão, algo acessível a qualquer um, já caracterizam passos firmes neste colocar-se em pé sobrenatural. A grandeza, e também delicadeza, do coração de São Mateus é entrevista igualmente no convite que faz a Jesus para um banquete na sua casa, convidando aqueles que certamente precisavam se aproximar do Senhor: que bela é a sua consideração e reconhecimento a Deus pelo dom inefável de ter sido chamado por Ele, e que prova de amor ao próximo em querer imediatamente compartilhar com os irmãos a sua própria comunhão com Deus! E é exatamente no Banquete Eucarístico que melhor o fazemos.

Oração:

Senhor Deus e Redentor nosso, que continuamente nos chamais para Vós, concedei-nos pela intercessão de São Mateus conhecer e viver o Evangelho, sem jamais repudiá-lo, mas permanecendo infinitamente agradecidos à Vossa bondade, perseverarmos na obediência a Vós, levando pela conversão, palavras e ações a Boa Nova aos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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20 de Setembro

20 de Setembro – Santo André Kim Taegon e companheiros

André Kim Taegon foi o primeiro sacerdote mártir da Coreia que morreu em 1846. E com ele, há o testemunho de fé, selado com o supremo sacrifício da vida, de milhares de homens e mulheres varridos pela onda de perseguições que atingiu a Coreia nos séculos XVIII e XIX.

Santo André nasceu em 1821, em uma família convertida e muito fervorosa, tanto que seu pai transformou sua casa em igreja doméstica, onde se reuniam muitos fiéis para ser batizados. Ele respirava a fé, desde criança. Vale ressaltar que a evangelização da Coreia foi feita inicialmente pelos leigos, pois não havia padres naquela época. Os leigos batizados transmitiram a fé e formaram fervorosas comunidades de vida cristã.

Tais episódios, porém, fortaleceram ainda mais a sua fé, a ponto de ir a Macau para receber a ordenação sacerdotal. Ao regressar à Coreia como diácono, em 1844, Santo André procurou corajosamente os membros dispersos do seu rebanho, que foram obrigados a manter em segredo a sua identidade. Ajudou padres missionários estrangeiros que entravam secretamente no país para ministrar ao seu povo.

Santo André suportou grandes dificuldades por causa do Evangelho, incluindo uma longa caminhada pela neve, onde caiu exausto no chão e correu o risco de morrer congelado. Porém, ele ouviu uma voz dizendo: “Levante-te, caminha!” o que lhe deu forças para continuar a sua missão.

Obteve resultados extraordinários em seu apostolado, até quando foi descoberto e preso, por tentar enviar documentações e testemunhos para a Europa. Padre André Kim Taegon foi martirizado em 16 de setembro de 1846.

O Papa João Paulo II em 1984, em Seul, canonizou o Padre André Kim Taegon e os 102 companheiros mártires.
Colaboração: Nathália Lima

Reflexão:
Santo André Kim Taegon é um exemplo da paixão pela evangelização e da disposição de suportar as adversidades por causa do Evangelho. A sua vida inspira-nos a perseverar na vocação de sermos missionários, de evangelizar a família, os amigos, falar de Jesus com o coração cheio de alegria e força.

Oração:
Deus todo-poderoso, que destes ao mártir Santo André Kim Taegon e companheiros a graça de sofrer pelo Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa fé, como eles não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

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19 de Setembro

19 de Setembro – São Januário (São Gennaro)
Januário (Gennaro em italiano) nasceu em Nápoles, cidade italiana aos pés do vulcão Vesúvio, na segunda metade do século III. Uma fonte cita que seu nome seria Prócolo, da família romana dos Ianuarii. Foi eleito bispo de Benevento, cidade próxima de Nápoles, parece que ainda jovem, em reconhecimento pela sua bondade, caridade e zelo pela Fé. Na época, o cristianismo implicava em alto risco de vida, pelas perseguições pagãs dos imperadores romanos. Em 304, Dioclesiano, de fato, iniciou a última e talvez a mais violenta perseguição contra a Igreja, antes da paz de Constantino em 313. Todos os representantes do clero eram, potencialmente, as principais vítimas.

Há informações contraditórias a respeito do martírio de Januário, mas o que parece mais certo é que foi preso junto com outros cristãos, incluindo o diácono Sósio, ao ir à prisão confortar fiéis encarcerados. Conduzidos até Puzzuoli, pequena cidade próxima de Nápoles, foram julgados e condenados à morte. Algumas versões citam uma tentativa de queimá-los numa fogueira, da qual saíram ilesos; mais certo é que foram, depois disso ou diretamente, levados à arena da cidade, para serem mortos por leões famintos.

Os animais, contudo, apenas lamberam os pés dos condenados; foi então decretada a sua morte por decapitação. Era o dia 19 de setembro do ano 305. O sangue de Januário, como frequentemente acontecia com os mártires, foi recolhido como relíquia por fiéis.

Este sangue, coagulado, conservado sem qualquer produto químico ao longo dos séculos numa ampola de vidro na catedral de Nápoles, foi exibido ao público pela primeira vez em 1305, já sendo um milagre o fato de simplesmente se ter mantido inalterado, sem se decompor totalmente, como seria natural. Mas em 17 de agosto de 1389, com testemunhos verbais de cerca de 5.000 pessoas, ele se liquefez espontaneamente, e posteriormente tornou a ficar coagulado.

O fenômeno tornou a se repetir ao longo do tempo; em 1728 Montesquieu (crítico da Igreja) o observou duas vezes, certificando que não se tratava de artifício; em 1902 o sangue foi examinado espectroscopicamente diante de testemunhas pelo Dr. Sperindeo, que declarou não haver dúvida de que se trata de sangue humano. A igreja sempre permite que o fenômeno seja investigado pela Ciência, que até o presente não tem reposta para ele.

O milagre costuma acontecer três vezes por ano, observado diretamente por multidões: no primeiro sábado que precede o primeiro domingo de maio, em memória da primeira translação do recipiente de com o sangue; em 19 de setembro, memória litúrgica de São Januário e data do seu martírio; e em 16 de dezembro, quando a intercessão de São Januário impediu a destruição da cidade pela catastrófica erupção do Vesúvio em 1631. Além da passagem do estado sólido para o líquido, a cor do sangue muda de escuro para vermelho vivo, o peso duplica, e é alterado o volume – independentemente de condições de temperatura ou quaisquer outros parâmetros naturais.

Historicamente, a intercessão de São Januário, pedida pelos fiéis de Nápoles em diversas situações críticas, como a erupção vulcânica, a peste que dizimou toda a região menos a cidade em 1884, em situações de guerra, carestia, etc., naturalmente levou a que ele fosse proclamado patrono da cidade. Também as igrejas ortodoxas o veneram como santo e mártir.
 Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
São Januário, e também seus companheiros de martírio, resistiram à fogueira das vaidades e soberba pagãs, tornando dóceis, pela Fé e amor a Cristo, as feras das tentações de apostasia. A espada decapitou a morte para longe das suas almas, em total independência dos parâmetros naturais, e evitou a catastrófica erupção de uma condenação infinita para eles. A evidência do milagre proporcionado pelo sangue de São Januário é tão contundente que é difícil entender a descrença de tantos homens quanto à Igreja. A argumentação de que a Ciência “algum dia” o poderá explicar é, diante das circunstâncias, uma pobre e feia desculpa, que se apoia não nos fatos observáveis e mensuráveis – científicos – mas numa má vontade evidente de quem se recusa a reconhecer uma verdade cabal e indiscutível. Só uma mentalidade tão absurdamente relativista, da qual não se pode duvidar que chegue em algum momento a questionar se 2+2=4, pode fornecer o tanto de estupidez necessária para recusar até mesmo uma mínima disposição sincera para ao menos ouvir a mensagem da Boa Nova de Jesus. Ao invés disso, de forma irracional, arbitrária e preconceituosa, decreta a vazia soberba humana, por meio do mundanismo atual, dogmaticamente, que só o engenho humano tem explicação para o que existe, ainda que o mesmo engenho humano comprove, na prática, a impossibilidade desta noção. Este contraste, que contraria a Razão e o bom senso, além das evidências diretas, é um alerta monumental para a crítica situação do Homem, presentemente tão preocupado e obstinado em rejeitar a realidade e a Verdade, situação esta mais grave ao longo da História na medida em que o entendimento e o conhecimento de Deus são potencialmente mais acessíveis, e a Sua negação cada vez menos desculpável. Assim é que o mistério da liberdade humana, que Deus nos concedeu, e portanto a responsabilidade em relação a ela, agravam as escolhas que fazemos, tanto pessoal quanto socialmente. Nem por isso devemos desesperar da Sua Misericórdia, até porque Ele mesmo a garantiu a todos que O procuram sinceramente, mas sem dúvida é tempo de conscientemente buscar com coragem a santidade, como fizeram São Januário e companheiros, pois ela é o único caminho que conduz à paz.

Oração:
Senhor Deus, que nos concedestes por amor gratuito e eterno a existência e a Salvação por meio do martírio de Cristo, concedei-nos por intercessão de São Januário a solidificação da nossa Fé, de modo a que possamos aumentar o peso e o volume dos atos de caridade em favor do próximo e para a Vossa glória, e ao mesmo tempo a diluição cada vez maior dos nossos pecados no Sangue de Cristo, a fim de obtermos o Vosso perdão e a vida celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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18 de Setembro

18 de Setembro – São José Cupertino

José Maria Desa nasceu em 1603, no vilarejo de Cupertino, província de Lecce, reino de Nápoles, na atual Itália. A família, muito piedosa, vivia em situação miserável, pois o pai havia sido envolvido na falência de um conhecido a quem emprestara dinheiro. Às vésperas de seu nascimento, a família perdeu até os poucos móveis que possuía e foi despejada da casa, e assim ele nasceu, de modo semelhante a Jesus, numa estrebaria.

Nesta situação, desde criança teve que trabalhar para auxiliar no sustento familiar. Chegou a iniciar a escola, mas uma úlcera gangrenosa o afastou dos estudos por cinco anos. De toda a forma, sua saúde foi muito fraca na infância e adolescência, várias vezes com risco de vida, e não possuía boa coordenação motora nem muita inteligência.

Sua mãe procurou dar-lhe uma formação básica, a partir das histórias da vida dos santos, como São Francisco. Surgiu nele, então, o desejo de ser religioso, e sacerdote. Aos 16 anos, pediu admissão na Ordem dos Frades Franciscanos Conventuais, no convento de “Grottella”. Mas sua falta de instrução não o permitiu ficar, e voltou a trabalhar.

Ele insistiu, procurando os Franciscanos Reformados, sendo novamente rejeitado pela formação deficiente, e, depois, os Capuchinhos de Martina Franca; ali, os frades tentaram dar-lhe diversos trabalhos, mas, além da pouca instrução e capacidade de aprendizado, seus primeiros êxtases místicos faziam com que deixasse cair no chão o que tivesse em mãos, quebrando frequentemente louças e objetos do convento, a um ponto que se tornou oneroso. Os capuchinhos o dispensaram, e ele teve que retirar o hábito franciscano, o que, comentou posteriormente, foi como se lhe tivessem arrancado a pele.

Com o passar do tempo, José chegara à maioridade, e o Supremo Tribunal de Nápoles decidiu que ele deveria então trabalhar sem remuneração, para pagar a dívida do pai, já falecido. Na prática, isto era uma sentença de escravidão, e José pediu auxílio aos frades da “Grottella”, que não lhe recusaram a ajuda. Foi-lhe dado o trabalho de cuidar de uma mula. Com o tempo, os frades observaram, em meio às suas limitações, uma verdadeira piedade e vida de oração, santidade, austeridade, total obediência e dons sobrenaturais, e o admitiram no convento.

Esforçou-se por estudar com o auxílio da comunidade e, após imensas dificuldades e gigantesca força de vontade, fez o exame para o diaconato. Recomendou-se inteiramente à Nossa Senhora, por Quem tinha enorme devoção, sabendo perfeitamente que não possuía condições naturais de ser aprovado. O bispo que o arguiu pediu-lhe para comentar uma passagem do Evangelho — na Providência Divina, a única que ele conhecia bem e sobre a qual podia falar com profundidade…

Três anos depois, em 1628, no exame para o sacerdócio, novamente recorreu a Nossa Senhora. O bispo interrogou vários candidatos, descobrindo-os particularmente bem preparados, e, sem arguir os demais, entre os quais José, aprovou-os a todos. A Providência colocou o analfabeto José no presbiterato, como era da Sua vontade.

A ordenação não modificou a extraordinária humildade de José, que sabiamente reconhecia suas limitações e se autodenominava de “irmão burro”. Fazia os serviços mais simples, limpando o chão, lavando a louça, tratando dos animais, e se dedicava ao cuidado dos pobres. E recebeu o dom da ciência infusa, ou seja, por inspiração divina, falava com profunda sabedoria a respeito de qualquer tópico da Teologia. Ensinava que devíamos preparar o coração “para oferecer a Cristo a inteligência, a memória e a vontade”.

Além disso, outros dons se manifestaram: curas milagrosas de diversas doenças, predições, levitação simplesmente ao pronunciar os nomes de Jesus e Maria e êxtases nos momentos de oração, particularmente quando celebrava a Missa (numa ocasião, em levitação, suas mãos ficaram por cima do fogo de duas tochas, mas passado o momento, não havia sinal de queimaduras); percebia o que se passava nas almas das pessoas e as orientava. Logo a sua santidade e conhecimentos extraordinários atraíram multidões, e mesmo nobres e graduados religiosos o procuravam para consulta.

Mas os milagres motivaram o início de um exagerado e inconveniente fanatismo popular, e por fim surgiram até calúnias de que suas ações eram de origem diabólica. Por isso foi denunciado ao Tribunal da Santa Inquisição, que o convocou para investigação. No mosteiro de São Gregório Armênio, diante dos juízes, José levitou, provando sua inocência. Por sábia prudência, contudo, o Santo Ofício determinou o seu isolamento, de modo a não assustar ou confundir os fiéis, evitando assim interpretações erradas e poupando o convento do assédio que perturbava a paz dos frades.

Assim, José foi enviado em 1653 de Assis para conventos em Petra Rúbia, depois para Fossombrone, locais cada vez mais retirados, e finalmente para Ósimo, em 1656. Aí devia ficar afastado mesmo da comunidade, que, porém, recorreu ao Papa para tê-lo de volta a Assis. Mas o pontífice Alexandre VII lhes respondeu: “Não, basta-lhes um São Francisco em Assis”.

José tudo aceitou com humildade e obediência, sem revolta ou murmuração. Ali continuou sua vida humilde e de serviço aos pobres, e de modo especial culminou sua vida religiosa com a celebração da Sagrada Eucaristia. Faleceu em 18 de setembro de 1663, com 60 anos, e imediatamente começaram as peregrinações ao seu túmulo, com milhares de graças alcançadas por sua intercessão. Em Cupertino, sobre a estrebaria onde nasceu, foi construído um santuário a ele dedicado.

É o padroeiro dos estudantes em dificuldades, e, por suas levitações, padroeiro também dos paraquedistas e aviadores.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São José de Cupertino, assim como São João Maria Vianney, ou Santa Joana d’Arc, mostram que Deus age livremente e capacita, como quer, aqueles para os quais dá Suas missões. Desta forma fica evidenciado que as boas obras são fruto das Suas graças divinas, e não dos méritos dos seres humanos. Estes têm por único mérito fazer o que Nossa Senhora, São José de Cupertino e todos os outros santos fizeram — aceitar com humildade, alegria e pronta obediência tudo o que Deus dispuser para cada um em particular. São José de Cupertino aceitou a miséria, a doença, os limites pessoais e as humilhações, dedicando-se ao essencial do que a Igreja ensina como necessário para uma vida católica coerente: oração constante, profunda e viva devoção à Nossa Senhora e à Eucaristia, e o serviço amoroso aos pobres. Certamente que todo empenho deve ser colocado (como procurou fazer São José de Cupertino!), também no melhor conhecimento possível da Doutrina, mas como o conhecimento por si só não traduz uma vida de Fé verdadeira, precisa ser acompanhado de profunda humildade; São José de Cupertino já a possuía em abundância, assim a sabedoria lhe foi infusa… de acordo com as capacidades e possibilidades pessoais, seguindo estes passos sempre estaremos no caminho que leva seguramente a Deus. Não por acaso, são exatamente as grandes deficiências de comportamento e escolha na atormentada vida dos nossos tempos, e devem ser os objetivos concretos de todos os que sinceramente buscam a Deus.

Oração:

Deus Pai de bondade e sabedoria, que tudo provê para a salvação de cada alma, concedei-nos por intercessão de São José de Cupertino a sua grandiosa humildade e completa obediência, na total confiança da Vossa Providência em nossas vidas, de modo que, sem nos abalarmos com as dificuldades e provações, façamos perseverantemente com amor e simplicidade o bem ao próximo, para podermos ser elevados ao êxtase infinito da plena Comunhão Convosco. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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17 de Setembro

17 de Setembro – São Roberto Belarmino – 
Roberto Belarmino nasceu em 1542, na cidade de Montepulciano, perto de Siena, na Toscana, Itália. Sua família era nobre, extremamente católica, mas empobrecida; seu pai foi governador da cidade e sua mãe era irmã do futuro Papa Marcelo II, por apenas 22 dias em 1555. Dos 12 filhos, seis foram religiosos.

Roberto nasceu franzino e doente, e com excepcional inteligência. Desde cedo muito estudioso, aprendia com facilidade, gostando de visitar o Santíssimo Sacramento e fazer os jejuns do Advento e da Quaresma. Jovem, já com ótima formação humanística, entrou para a companhia de Jesus em 1560. Em 1563, seus méritos acadêmicos o levaram a ser nomeado professor do Colégio de Florença. No ano seguinte passou a lecionar Retórica no Piemonte.

Em 1566 foi para o colégio de Pádua onde estudou Teologia. Por fim, em 1567 foi enviado pelo superior São Francisco de Borja para Louvain, já conhecido no país como pregador; devia defender a Fé contra os questionamentos luteranos, ensinando também Teologia. Seu preparo havia incluído o conhecimento profundo em Filosofia, Teologia, os Padres da Igreja, São Tomás de Aquino, outros Doutores da Igreja, os Concílios e a História da Igreja. Foi ordenado sacerdote em 1570.

Entre 1576 e 1586 lecionou Apologética, para ensinar a verdadeira Doutrina, no Colégio Romano, convocado pelo Papa Gregório XIII, que estava preocupado com os erros que se espalhavam nos centros universitários. Esta cátedra se chamava Controvérsias, e a compilação das suas aulas deu origem, por ordem dos seus superiores, ao livro “As Controvérsias Cristãs sobre a Fé” (Controversiae), um tratado sobre todas as heresias, e uma das obras teológicas mais consultadas de todos os tempos; seu conteúdo une a sabedoria das ciências terrenas, o conhecimento espiritual e a fé. Este período pós Concílio de Trento (1445-1563), no qual se enquadra o trabalho de Roberto, foi fundamental para a resposta da Igreja à heresia protestante.

De 1588 a 1594 Roberto foi pai espiritual dos alunos jesuítas do colégio Romano, então com cerca de 2.000 estudantes, incluindo São Luís Gonzaga; em 1592 foi nomeado diretor. Também foi por dois anos superior provincial de Nápoles, quando o Papa Clemente VIII o chamou a Roma como seu consultor. Neste período (1597-1598), escreveu o “Catecismo, Breve doutrina Cristã”, com dezenas de edições e traduzido em mais de 50 idiomas. Foi nomeado pelo Papa como teólogo pontifício, consultor do Santo Ofício e reitor do Colégio das Penitenciárias da Basílica de São Pedro.

Em 1599 tornou-se Cardeal e em 1602 arcebispo de Cápua (contra a sua vontade, mas por obediência), destacando-se nas pregações, pelas visitas semanais às paróquias, pela criação de um Conselho Provincial e pela convocação de três sínodos diocesanos. Participou dos conclaves que elegeram os Papas Leão XI (faleceu após 27 dias) e Paulo V, que o chamou ao Vaticano, como membro das Congregações do Santo Ofício, do Índice, dos Ritos, dos Bispos e da Propagação da Fé. Nos seus últimos anos, assumiu ainda cargos diplomáticos na República de Veneza e na Inglaterra, defendendo os direitos da Sé Apostólica. Neste tempo escreveu também muitos livros sobre espiritualidade.

A sua ação como professor, formador, pregador e escritor foi fundamental para combater os males do luteranismo, e pode-se dizer que se a Áustria e Alemanha, por exemplo, ainda mantiveram o Catolicismo, foi em boa parte por sua influência.

Sentindo aproximar-se o fim, pediu dispensa dos seus cargos na Cúria e retirou-se para o Noviciado de Santo André, no Quirinal, Roma, a fim de “esperar o Senhor”. Faleceu aos 17 de setembro de 1621, com 79 anos, surdo e com vários problemas de saúde, que aliás o acompanharam ao longo da vida. É um dos Doutores da Igreja, e o único jesuíta canonizado como cardeal e como bispo, depois de procurar evitar durante toda a vida qualquer honra e dignidade.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
A espiritualidade de São Roberto Belarmino está centrada na bondade infinita de Deus, que a todos acolhe e perdoa, se há sinceridade na alma. Destaca também a oração, fonte de união com Deus e portanto de alegria e serenidade. Sua formação jesuítica, com a prática dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, lembra sempre a finitude desta vida, e assim a sua razão de ser e objetivo: a glória de Deus. Tudo o mais é secundário, é caminho; sucesso ou fracasso nas coisas humanas, o único que verdadeiramente importa é servir com amor a Deus, e portanto tudo o que fazemos deve levar somente isto em consideração; é preciso prestarmos atenção ao que fazemos, para corrigir a direção sempre que necessário. Neste sentido, como sempre, a oração, os Sacramentos, e o conhecimento da Verdade são essenciais. A apologética, isto é, a defesa das Verdades da Igreja, enfrenta hoje desafio ainda maior do que nos começos do protestantismo, e muito devemos rezar pela santa formação do clero, em primeiro lugar, e dos fiéis. As universidades, cuja origem foi de iniciativa católica (fato histórico incontestável), atualmente funcionam em grande número como centros de apostasia, mundanismo e idelogias ateias. Se o diabo conseguiu agir no Paraíso Terrestre, não surpreende que aja em qualquer instituição deste mundo, mas isso não significa que necessariamente vá triunfar. Depende da resposta da nossa santidade, pessoal fundamentalmente, e que inclui todos os esforços necessários para combater o mal e a mentira na formação das pessoas, começando em casa, nos colégios, universidades, seminários… Deus nunca deixará de dar as graças necessárias. Mas como agem os católicos, que são pais, professores, sacerdotes, bispos, responsáveis…?

Oração:
Senhor Deus, de sabedoria infinita, e que sempre nos ensinais a Verdade, concedei-nos pela intercessão de São Roberto Belarmino buscarmos, pela oração e aprofundamento no conhecimento da Vossa Doutrina, não nos deixarmos abater pelas doenças, principalmente da alma, mas vivermos coerentemente uma intrépida defesa da Fé, com exemplo e ensino, para assim reavermos por Vossa graça a nobreza da condição humana, decaída pelo pecado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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16 de Setembro

16 de Setembro – Santos Cornélio e Cipriano  –

Cornélio, Papa, e Cipriano, bispo, foram contemporâneos no século III, martirizados no mesmo dia do mês (14 de setembro, atualmente festa da Exaltação da Santa Cruz; dia 15 é a festa de Nossa Senhora das Dores, então a festa destes santos passou para o dia 16), mas com diferença de cinco anos.

Cornélio, de origem romana, foi eleito Papa em 251, após 22 meses de vacância do cargo, por causa da violenta perseguição do imperador Décio aos cristãos (não havia possibilidade de reunião do clero para se fazer uma eleição). Seus dois anos de pontificado foram tumultuados também por problemas internos na Igreja. Realmente, Novato, um mau presbítero africano, fugiu de Cartago para Roma, onde fez amizade com outro sacerdote, e médico, Novaciano, igualmente orgulhoso e interesseiro; Novato enganou três bispos estrangeiros e os convenceu a eleger Novaciano “papa”, opondo-se a Cornélio e provocando um cisma. Este antipapa fomentou uma heresia segundo a qual só pertenciam à Igreja os “puros” (ói kátaroi), negando o perdão para os pecados graves e as segundas núpcias para as pessoas viúvas.

Em paralelo, Cipriano, nascido no ano de 210 em Cartago, norte da África, de família rica e nobre, hábil advogado e retórico, convertido ao Catolicismo em 246, foi logo ordenado sacerdote e consagrado bispo em 249, mesmo ano em que teve que fugir de Cartago por causa da perseguição de Décio. Apoiou a eleição e autoridade do Papa Cornélio, deixando escritos nos quais ressalta suas virtudes e o seu excelente governo na Cátedra de Pedro.

A heresia do novacianismo condenava em especial os numerosos cristãos que, por fraqueza, haviam negado a Fé durante a crudelíssima perseguição de Décio, os chamados lapsi, “caídos”, muitos dos quais, porém, se arrependeram. Verdade é que alguns pretendiam voltar à Igreja sem as devidas penitências, apresentando apenas um certificado de reconciliação conseguido com algum suposto confessor.

Mas Cornélio e Cipriano defenderam o direito de plena reconciliação eclesiástica para aqueles que sinceramente se arrependessem e fizessem as penitências devidas, num sínodo convocado em 251, no qual foi reafirmada a eleição de Cornélio, excomungado Novaciano e anatemizada a sua heresia. Cipriano teve ainda que se opor, com o apoio do Papa Cornélio, a um diácono de Cartago chamado Felicíssimo, que havia conspirado para a eleição de um anti-bispo, Fortunato.

Assim Cornélio e Cipriano se apoiavam mutuamente contra o cisma e a heresia, que tanto em Cartago como em Roma os perseguiam, e à Igreja. Externamente, o novo imperador Galo iniciou a 8a perseguição aos cristãos em 252, durante a qual Cornélio foi exilado em Centumcellae (atual Civitavecchia), aonde foi decapitado em 253. Mais tarde, em 258, na perseguição promovida agora pelo imperador Valeriano, Cipriano foi preso e condenado quando retornou clandestinamente a Cartago; ao receber a sentença de morte por decapitação com espada, respondeu: Deo Gratias (“Graças a Deus”).

São Cipriano deixou numerosos escritos doutrinais, sobre dogma, moral, ascetismo e disciplina eclesiástica, além de 81 cartas, estas obras-primas da literatura latina e importante fonte de informações sobre a vida da Igreja na época.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
As vidas e missões de São Cornélio e São Cipriano foram próximas e unidas, nem belo testemunho de amor pela causa comum de Cristo e da Igreja, e por isso os seus nomes também estão unidos no Cânon das Missas solenes. O amor a Deus e ao próximo sempre nos unem, pois sua base é a nossa mesma filiação divina, a essência do que somos por origem e ao que somos chamados a ser em plenitude no Paraíso Celeste. Como Igreja, Corpo Místico de Cristo, somos membros de um organismo vivo no qual cada um precisa ajudar o outro a combater e superar os problemas internos e externos, para a saúde geral. Aos membros acaso doentes, é preciso o cuidado da cura, e assim jamais pode ser negado a ninguém sinceramente arrependido o perdão dos pecados. Este aspecto do novacianismo revela uma hipocrisia monstruosa, que nada mais é do que a manifestação da soberba dos que pretendem ser essencialmente superiores aos irmãos. Soberba esta ainda tão comum na realidade humana, incluindo tantos e tantos católicos… haja visto os incontáveis casos de vaidades medíocres entre os que, sem ao menos terem conhecimento suficiente, provocam divisões artificiais a respeito de espiritualidades diferentes, mas perfeitamente válidas (na medida em que não sofrem distorções), por exemplo a respeito da Liturgia. Enquanto isso, o diabo, cujo nome significa “divisão”, sorri e mais prontamente afasta os fiéis de Deus, pois o que está desunido é muito mais facilmente conquistado. E as perseguições externas recrudescem cada vez mais, na área cultural, social, política, etc., em pressões dia a dia maiores. A promessa de Cristo é de que “as portas do inferno não prevalecerão sobre ela [a Igreja]” (cf. Mt 16-18), mas nem por isso podem os católicos negligenciar o seu compromisso de comunhão, em Cristo, por Cristo e para Cristo; o combate ao cisma e às heresias são tão atuais hoje como no século III, e a vitória só virá na unidade da oração e da vivência da caridade.

Oração:

Senhor Deus, que de tal modo quereis que estejamos unidos a Vós, a ponto de enviar o Vosso Filho para pagar os nossos pecados, concedei-nos por intercessão de São Cornélio e São Cipriano a firmeza da unidade na Fé, Esperança e Caridade, para que, apoiando-nos mutuamente na Verdade, possamos dar graças a Vós ao decapitar o pecado das nossas vidas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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