29 de Setembro

29 de Setembro – São Miguel, São Gabriel e São Rafael
Os anjos são seres espirituais, com escolha livre e conhecimento perfeito e imediato da sua condição, de Deus e da Criação, no momento mesmo em que são criados. Portanto não têm relações familiares, pois sua criação é totalmente individual, e por terem imediatamente conhecimento pleno, devem escolher se obedecerão a Deus de forma definitiva, infinitamente.

A linguagem habitual chama de “anjos” aqueles que optaram por seguir a Deus; e de anjos caídos ou rebeldes, anjos do mal, diabos, demônios, satã, e outros, Lúcifer e os que, como ele, iniquamente rejeitaram o Criador e, por sua própria e irrevogável culpa, decidiram não aceitar jamais o perdão que o Senhor poderia, mesmo a eles, conceder, se quisessem se arrepender.

Os Anjos foram criados por Deus para a Sua Glória e serviço, de várias formas, umas mais diretamente relacionadas ao próprio Senhor e outros mais em relação à Criação. A Igreja ensina que há nove Ordens ou Coros de anjos, dentre os que obedecem à Trindade, organizadas em três hierarquias. Na primeira delas estão os Serafins, Querubins e Tronos; na segunda, as Dominações, Potestades e Virtudes; na terceira, Principados, Arcanjos e Anjos.

Cada hierarquia e ordem tem funções específicas dadas por Deus. A terceira hierarquia inclui os anjos que cumprem as ordens de Deus mais diretamente relativas aos seres humanos; assim os Principados dirigem-se aos reis, dioceses, nações, sendo protetores – e punidores – dos povos. Os anjos cuidam individualmente das pessoas: são os Anjos da Guarda, que Deus quis nos dar como amigos, conselheiros e protetores individuais. E os Arcanjos são mensageiros (significado próprio da palavra “anjos”) de Deus para missões especiais, de grande importância para a Humanidade.

As missões que nos foram transmitidas dos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel são diferentes. Os três pertencem ao grupo dos anjos que estão sempre diante do Senhor e têm acesso à Sua Majestade (cf. Tb 12,15), ou seja, sua dignidade é altíssima.

São Miguel é citado tanto no Antigo como no Novo Testamentos; uma interpretação também o identifica como o Arcanjo que precederá o momento imediato da ressurreição no final dos tempos (cf. 1Ts 4,16). O Arcanjo Miguel já era considerado pelos Hebreus como o príncipe dos anjos, chefe supremo do exército celeste, e protetor do povo eleito, símbolo da potente assistência divina para com Israel (cf. Dn 10,13.21;12,1 e Jd 1,9). E Ap 12,7-8 indica que ele combateu com seus anjos diretamente contra satanás e outros demônios, vencendo-o; como o seu nome em Hebraico, Mi-ka-El, significa “Quem como Deus?”, tradicionalmente entende-se que foi esta a expressão que, diante da revolta de Lúcifer contra Deus, Miguel usou ao enfrentá-lo.

Por isso também a Igreja venera São Miguel Arcanjo como seu protetor e defensor, ao longo desta vida e no final dos tempos (cf. Dn 12,1), não só pelo combate como também por ser advogado de defesa das almas acusadas constantemente por satanás (cf. At 12,10). Além de protetor e defensor, ele é conhecido como poderoso intercessor e o Arcanjo do Arrependimento e da Justiça, que irá “pesar as almas” depois da morte; e a Igreja afirma que ele conduz individualmente cada alma dos eleitos para o Céu, após o falecimento do corpo.

São Miguel apareceu na Itália em 490 no Monte Gargano, apresentando-se como protetor e prometendo sua intercessão (“Eu sou Miguel Arcanjo e estou sempre na presença de Deus. Venho habitar este lugar, guardá-lo e provar por meio de um sinal que serei seu vigia e custódio.”). Já a estátua em honra de São Miguel, no topo do Castelo Sant’Angelo, bem próximo do Vaticano, recorda a sua intervenção milagrosa para debelar a peste que assolava Roma em 590.

Em 1884, o Papa Leão XIII teve uma visão horrível, de legiões de demônios atacando a Igreja quase a ponto de destruí-la, e da proteção salvadora de são Miguel; por isso imediatamente compôs uma famosa oração* e a tornou obrigatória após todas as Missas, o que, inexplicavelmente, deixou de ser feito em tempos mais recentes. Depois disso, São João Paulo II, no santuário em Monte Gargano, afirmou em 1987, “…vim venerar e invocar o Arcanjo Miguel, para que proteja e defenda a santa Igreja num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.”

São Miguel Arcanjo é padroeiro da Igreja Católica, sendo inúmeros os santuários, mosteiros, catedrais, etc. A ele dedicados.

São Rafael, cujo nome Hebraico significa “Cura de Deus”, aparece no Antigo Testamento, com enorme destaque, no Livro de Tobias, que, como os livros de Judite e Ester, pertencem ao gênero literário midráxico.

Isto significa que a sua mensagem, verdadeira, é narrada de forma totalmente despreocupa de informações históricas e geográficas exatas, que servem apenas como uma ambientação necessária de suporte ao conteúdo relevante, no caso, de índole espiritual. Neste contexto, Rafael é aquele que conduz a Humanidade no caminho para Deus, intercedendo e agindo ativamente na cura dos seus males físicos e espirituais.

O enredo desta narrativa conta como São Rafael, assumindo a forma humana eu nome de Azarias, acompanhou e guiou Tobias numa perigosa viagem de ida e volta para recuperar um depósito de dinheiro do seu pai, Tobit, que havia ficado cego. Eles partem de Nínive (atualmente Mossul, no Iraque) para Ecbatana, na Média (provavelmente a atual Hamadã, no Irã, e, na narrativa, referente à capital do antigo Império Meda, capturado pelos persas em 550 a.C.).

No caminho, no rio Tigre, Tobias captura um peixe e, sob a orientação do seu companheiro angelical, guarda do animal o coração, o fígado e a bílis. Em Ragues, bem perto de Ecbatana, Azarias insiste para que parem na residência de parentes, onde Tobias conhece e casa com sua prima Sara, antes atormentada pelo demônio, e liberta pela fumaça produzida com o coração e o fígado do peixe. No retorno a Nínive, Tobias cura a cegueira do pai com o bílis do animal. Azarias por fim se revela: “Eu sou Rafael, um dos sete santos Anjos que assistem e têm acesso à majestade do Senhor. (cf. Tb 12,15).”

A missão de São Rafael está associada à guia e à cura das feridas da alma e do corpo, por isso ele é conhecido como “Medicina de Deus”, e é o Padroeiro dos sacerdotes e dos médicos, além de protetor dos viajantes (também os peregrinos desta vida rumo ao Céu), soldados e escoteiros; é tmbém o anjo da Providência, pois forneceu os elementos necessários para as curas de Sara e Tobit.

São Gabriel, cujo nome em Hebraico quer dizer “homem de Deus”, foi o responsável por algumas das mais importantes revelações de Deus aos homens. No Antigo Testamento dirige-se a Daniel para lhe esclarecer o significado de uma visão e para anunciar alguns eventos futuros (cf. Dn 8,15-18; 9,20-27). No Novo Testamento, primeiro anuncia a próxima e milagrosa gravidez de Isabel a seu esposo Zacarias, na concepção de São João Batista (Lc 1,8-20). Porém a sua mais destacada missão é o anúncio feito a Maria (Lc 1,26-38), sobre a Encarnação de Jesus, episódio do qual dependeu Dela a possibilidade da nossa salvação…

São atribuídas por teólogos outras aparições e mensagens de São Gabriel no Novo Testamento, como a explicação a São José de que a gravidez de Maria se dera pelo Espírito Santo (Mt 1,20-23); também seria Gabriel o anjo anunciando o Natal de Jesus aos pastores em Belém, aos reis magos que não retornassem a Herodes, a José que fugisse com a Sagrada Família para o Egito e que depois o enviasse de volta para Nazaré; seria o consolador de Jesus no Monte das Oliveiras e anunciado a Ressurreição de Cristo às mulheres piedosas, no Seu túmulo. Contudo, em nenhuma dessas manifestações está clara e explicitamente o nome de São Miguel.

 Principalmente tendo a função de mensageiro, São Miguel Arcanjo é por isso o Patrono das Comunicações e também Padroeiro da Rádio Vaticano.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Os anjos estão muito próximos de Deus, Quem é o mais próximo da nossa existência e alma; por isso os anjos podem estar também muito próximos de nós (o mesmo se aplica, ainda mais intensamente e pelo mesmo motivo, a Nossa Senhora…). Os três Santos Arcanjos que o Senhor nos deu a graça de conhecer pelo nome cuidam muito especificamente da Humanidade, e portanto estão mais evidentes na sua História, que nada mais é que a História da Salvação. A devoção e a invocação a eles é muito poderosa e recomendável. O próprio nome de São Miguel, “Quem como Deus?”, já nos oferece a dimensão da humildade e fidelidade amorosa a Deus, sugerindo assim, para nós, um caminho de vida no Seu seguimento. Atualmente, é de particular importância é a sua função de protetor da Igreja e dos fiéis, “… num momento em que é difícil professar um autêntico testemunho cristão com compromissos e sem acomodações.”, como nos alerta dura e claramente São João Paulo II: a evidente crise na Igreja, entre o clero e os fiéis, destaca sem dúvida a falta de compromissos sérios com a Doutrina e a Tradição, com risco concreto de breves e futuras heresias, em função das “acomodações”, isto é, interesses escusos e respeitos humanos. A visão do Papa Leão XIII não foi uma brincadeira, mas uma evidência de como o diabo tenta destruir a Igreja de dentro para fora; por isso não é leviano pensar que a suspensão da sua ordem de rezar depois de cada Missa a oração que compôs, e que deveríamos, os católicos, rezar diariamente e independentemente de alguma norma – pois rezar aos anjos não pode ser proibido – já seja parte de uma ação maligna, de forma a enfraquecer a proteção que Deus nos dá. Segue a oração: *“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio; ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pela força divina, precipitai no inferno a satanás e todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.” Pela santa misericórdia de Deus e pelo Imaculado Coração de Maria, defendei-nos, São Miguel!!! A inefável missão de São Gabriel, no anúncio a Maria, valeu-nos a salvação eterna, e não há maior mensagem do que esta, excetuando a própria Palavra de Deus, Jesus. Mas ele continua nos avisando, através da participação nesta mesma Palavra, do que significa o Verbo que devemos aprender a conjugar. Tanto a sua mensagem a Maria quanto esta conjugação das nossas almas são muito simples e diretas, e talvez por isso não nos demos sempre conta da sua máxima importância, talvez acostumados demais com os estrondosos anúncios mundanos, que para se darem importância, apresentam-se, como muitas vezes o próprio diabo, de forma chamativa, espetacular e só de aparências: pois se não respondermos como Nossa Senhora, “Sim” ao chamado do Senhor, também simplesmente iremos para o inferno. O que estamos respondendo, diariamente como deve ser, ao chamado de Deus?? São Rafael Arcanjo nos guia pelas vias deste mundo até o Céu, oferecendo-nos sábios conselhos e nos lembrando sempre que só Deus pode nos curar plenamente a alma e o corpo. Tobit e Sara invocam a Deus a cura das suas misérias, trágicas misérias: respectivamente, a cegueira e a impossibilidade de união com o esposo. Bento XVI numa homilia em 2007, fala da cegueira de Tobit como a nossa cegueira para Deus; esta é, paradoxalmente, claríssima de ver na atualidade… e Sara estava em agonia porque, noiva sete vezes, não pôde sacramentar nenhuma união, já que o diabo Asmodeu, invejoso, matava os seus pretendentes antes da lua de mel. Sete é um número bíblico que indica plenitude: o diabo, por todos os meios, pretende matar a nossa união com o Divino Esposo. (Mas há um caminho no Qual ele não tem nenhum acesso: Nossa Senhora. Por isso nossa união com Ela é garantia de salvação, de “predestinação” salvífica, como ensina a Igreja). A questão é: pedimos a Deus que nos cure da cegueira de não vê-Lo, e da desunião infinita com Ele, com a mesma intensidade com que Tobit e Sara imploraram ao Senhor pelas Suas curas?? Porque Deus pode nos fazer enxergar, e pode unir os esposos, a alma e Ele, a Igreja e Ele, afastando o demônio. Pelos Sacramentos todos, incluindo Matrimônio e Comunhão, chega-se de volta ao nosso ponto de partida, depois da longa viagem que é a vida, ao Alfa e Ômega, início e fim, que é Deus (Nínive, de onde partiu Tobias – justamente para encontrar a união e um tesouro que fôra guardado – fica próximo ao rio Tigre, um dos que estão na descrição, com elementos simbólicos, do Paraíso Terrestre, cf. Gn 2,10-14). E como São Rafael, que é um dos “meios”, intermediários, “instrumentos” que Deus nos dá para a salvação, portanto a Providência e o que é necessário para ela, age para com Tobias? Além de o guiar pelo caminho e dar-lhe bons conselhos, nos oferece muito concretamente o que pode curar a alma e o corpo, nesta ordem: é através dos elementos do peixe, que temos contudo de apreender – pegar e guardar – apesar das dificuldades, que foi feita a fumaça pela qual Asmodeu foi afastado, e o remédio que curou a cegueira de Tobit. E que Peixe é esse, do qual o Coração e as “entranhas de misericórida” (cf. Mt 5,7 e Cl 3,12-17), abrasadas pelo fogo do Espírito Santo, elevam aos Céus um “bom odor” (2Cr 2,14-16) que afastam o mal, e cujo produto destas mesmas entranhas nos cura de não perceber, enxergar o Senhor? É Iēsous Christos Theou Yios, Sōtēr, “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”, cujo acrônimo em Grego, Ichthys, forma a palavra “peixe”, o símbolo usado pelos primeiros cristãos para se identificarem com segurança no período das primeiras perseguições. É na Eucaristia, na Hóstia e no Vinho Consagrados, verdadeiramente Corpo e Sangue de Cristo, que encontramos a nossa salvação.

Oração:
Deus Onipotente, que criastes e constituístes os Santos Anjos para a Vossa glória e Vosso serviço, mas também para nos auxiliar, concedei-nos pela intercessão e ação dos Santos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel a Vossa proteção, os Vossos avisos e a Vossa cura de alma e corpo, de que necessitamos para chegar a Vós ao fim da jornada desta vida; e que também nós sejamos como anjos na ajuda aos irmãos, particularmente os Vossos Sacerdotes, Bispos e Papas, que pela sua missão própria e condição única de ministrar os Sacramentos, em particular a Eucaristia, nos conduzam santa e retamente para a salvação, como os bons pastores que devem ser. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.