31 de Julho
31 de Julho – Santo Inácio de Loyola –
Iñigo Lopez de Loyola nasceu no Castelo de Loyola, cidade de Azpeitia, província basca de Guipuzcoa, Espanha, no ano de 1491. A família era rica, nobre e cristã, e ele foi o último de 13 filhos. Em 1506, sua família servia ao tesoureiro do reino de Castela, de quem Iñigo era parente.
Assim, com oito anos, Iñigo passou a frequentar a corte como pagem e cresceu numa atmosfera mundana, que adotou. Mas estudou, adquirindo grande cultura, bem como tornou-se excelente cavaleiro. De modo não incomum para a situação e local, Iñigo desenvolveu um temperamento forte, orgulhoso, violento, dado a conflitos.
Em 1517, com 26 anos, tornou-se militar, servindo a outro importante parente, o duque de Najera e vice-rei de Navarra. Participou de inúmeras batalhas, militares e diplomáticas. Em 1521, defendendo a cidade de Pamplona dos franceses, recusou-se a aceitar os termos da trégua, considerados vergonhosos, oferecida pelos adversários, alegando ser melhor morrer com honra. Forçou assim a sua tropa à resistência, e foi ferido gravemente na perna por uma bala de canhão.
Os vencedores o enviaram para o castelo de Loyola, onde permaneceu convalescendo por longo tempo. Após um primeiro e penoso tratamento, a perna ficou deformada. Ordenou então que os médicos a quebrassem e recuperassem perfeitamente. O resultado da cirurgia não lhe agradou, e ordenou que fizessem outra. Não queria se apresentar manco diante das donzelas da corte…
Embora mal orientadas para falsos valores mundanos, sua firmeza de caráter, força de vontade e aspirações grandiosas lhe seriam necessárias para os planos de Deus, que começaram a despertar nele durante o obrigatoriamente prolongado período de recuperação. Através da leitura, que lhe ocupava o tempo de convalescênça, sua alma foi tocada mais a fundo que o corpo pelo obus. Inicialmente desejava romances de guerra com narrações fantasiosas, mas os únicos dois livros no castelo, disponibilizados por sua irmã, eram “A Vida de Cristo” e “O Ano Cristão”, esta a biografia dos santos de cada dia.
Começou a perceber então a verdadeira grandeza, à qual aspirava sem saber, reconhecendo nas batalhas espirituais de santos como São Francisco de Assis e São Domingos os grandes feitos a serem desejados.
Considerou que estes gigantes da Fé também eram “feito de barro” como ele mesmo, e começou a se perguntar por que não conseguiria imitá-los, chegar também ao elevado grau de grandeza verdadeiramente humana (e portanto relativa ao espírito e não ao mundo) que eles alcançaram. “Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede, recebe; quem busca, acha; e a quem bate, a porta será aberta” (Mt 7,7-8). Passou a ansiar pela realização de grandes feitos, não mais proezas de cavalaria profana, “mas para a máxima glória de Deus”, o que veio a ser o seu lema.
As ideias amadurecendo, no silêncio de uma noite prostrou-se diante da Virgem Maria e ofereceu-se a Jesus como Seu fiel soldado. No mesmo instante, o castelo, com grande estrondo, foi violentamente abalado, até os fundamentos, e no quarto de Iñigo, o local mais atingido, abriu-se uma larga rachadura, existente até hoje. A fúria do demônio manifestava-se diante desta sua primeira simples mas convicta consagração. Então, com propósito definitivo, Iñigo prometeu fazer, com a graça de Deus, o que os santos haviam feito.
Tão logo curado, peregrinou ao Santuário de Nossa Senhora de Montserrat, em Barcelona, Catalunha. Fez uma confissão geral, trocou suas ricas vestes pelas de um mendigo, e deixou no altar a sua espada. Abandonou ali o mundo, a corte e as aparências.
Seguiu para o povoado de Manresa, a 15 quilômetros de distância, para orar e fazer penitência, durante um ano, de 1522 a 1523. Vivia numa gruta, solitário, mendigando para sobreviver e passando sérias necessidades. Recebeu o dom do discernimento dos espíritos, pelo qual se sabe o que se passa no íntimo de cada pessoa e quais os conselhos necessários para que ela distinga o Bem do Mal. Desenvolveu e praticou também a base dos seus famosos “Exercícios Espirituais”, livro que posteriormente seria um tesouro de bênçãos para a Humanidade.
Partiu em seguida para a Terra Santa, pregando energicamente a conversão dos muçulmanos, durante outro ano. Voltou à Espanha e estudou Latim, Física, Lógica e Teologia, em Barcelona, Salamanca, Alcalá, Veneza, Paris. Nesta cidade reuniu um grupo de sete amigos, com Pedro Fabro, Diogo Laynes, Afonso Salmerón, Simão Rodrigues, Nicolau Bobadilha e Francisco Xavier, este último futuro e famoso santo evangelizador no Oriente, dispostos a realizar os Exercícios Espirituais, depois do que estavam decididos a tudo sacrificar pela máxima glória de Deus.
Em 15 de agosto de 1534, festa da Assunção de Maria, na igreja de Montmartre, em ato solene pronunciaram os votos religiosos de pureza, pobreza e obediência, comprometendo-se a estar sempre à disposição do Papa para o que ele entendesse como o melhor para a glória de Deus. Estava fundado assim o primeiro esboço da Companhia de Jesus, que Iñigo pensou inicialmente em chamar de Companhia de Maria, pois depois da sua conversão Nossa Senhora lhe aparecera por 30 vezes.
Dividiram-se para as primeiras atividades apostólicas. Buscaram cidades onde as universidades atraíam os jovens: Bolonha, Ferrara, Siena, Pádua, Roma. Trabalharam em universidades e colégios. Suas conferências espirituais eram para toda classe de pessoas, e em Roma Iñigo aplicava os Exercícios Espirituais e catequizava o povo.
Em janeiro de 1537, Pedro Ortiz, ex-professor em Paris e embaixador do Imperador Carlos V junto ao Papa Paulo III, obteve junto a este uma audiência para Iñigo e companheiros. O Papa admirou-se com a ciência e humildade do grupo, deu-lhes a bênção e autorizou os que ainda não eram sacerdotes a serem ordenados, ocasião na qual Iñigo assumiu o nome de Inácio. E distribuiu funções entre eles, como cadeiras de Escolástica e Escritura Sagrada no Colégio Sapiência. Inácio ficou encarregado de pregar em Roma.
Em 27 de setembro de 1540 Paulo III aprovou definitivamente, por uma bula, a Ordem da Companhia de Jesus, também conhecida como Jesuítas. Comentou, a respeito das suas Constituições: “O dedo de Deus está aí”.
Inácio foi eleito superior-geral, dirigindo a casa de Roma e sempre mantendo contato com todas as casas e colégios da Ordem espalhados pelo mundo, supervisionando a todos com detalhe. Ao mesmo tempo lidava com o Papa e os cardeais sobre as atividades da Igreja, correspondia-se com soberanos da Europa, organizava novas fundações, sem por isso interromper suas obras de misericórdia na cidade. Uma atividade que se pode dizer milagrosa.
De apenas seis jesuítas em 1541, chegou-se ao número de 10 mil em 1556, espalhados por toda a Europa, Índia e Brasil. A contribuição dos jesuítas para a Igreja é incalculável. Foram o exército do Papa na restauração contra o protestantismo na Europa; levaram o Catolicismo aos extremos do Oriente e do Ocidente. Santo Inácio pessoalmente enviou os seis primeiros missionários jesuítas para o Brasil em 1549, com o Padre Manoel da Nóbrega, que foi o primeiro superior da província jesuíta do Brasil.
Em 1553 um novo grupo chega trazendo o jovem e futuro São José de Anchieta. O sólido início do catolicismo no país, a maior nação católica do mundo, está diretamente ligado à Companhia de Jesus. Muitos são os jesuítas canonizados.
Depois de assumir como superior geral da Ordem, a saúde de Inácio piorou gradativamente, e ele faleceu em 31 de julho de 1556 em Roma, aos 65 anos de idade. A bula da sua canonização numera 200 milagres por sua intercessão. É o padroeiro dos retiros espirituais.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Aventurosa, e venturosa, foi a vida de Santo Inácio. Embora com aspectos bem imperfeitos, mesmo antes da conversão ele buscava valores altos, que contudo, associados às grandezas do mundo, não o satisfaziam. Era corajoso, honrado, honesto, leal, mas sua dedicação era voltada para as criaturas, não para o Criador, o que tornava suas virtudes, indiscutíveis, meramente superficiais. Os objetivos, para serem verdadeiramente nobres, devem ser orientados pelo motivo certo, e para a única razão verdadeira, a plena comunhão com Deus. O seu combate por feitos discutivelmente grandiosos o levou a ser seriamente ferido no corpo, o que Deus conduziu para que lhe fosse curado o machucado da alma. E esta cura foi tão completa que o diabo quis atingi-lo, mas, assim como o canhão, só abalou e deixou marcas no corpo do castelo, não na morada do espírito, que com isso lhe ficou ainda mais resoluto. Não há rachadura numa alma que se entrega, totalmente, a Deus. Santo Inácio converteu-se lendo livros espirituais, um sobre Cristo, o outro sobre os santos, que na sua vivência militar bem caracterizam o general e seu exército – talvez não mera coincidência em relação à estrutura da Ordem que viria a fundar. A importância da leitura espiritual é indescritível. Talvez ainda mais nos tempos de séria crise de mundanismo atual. E Inácio deu a sua inspirada contribuição para esta biblioteca. Sem dúvida, “Exercícios Espirituais” é obra inspirada por Deus, uma das que mais levou a conversões na História da Igreja: São Francisco de Sales, um século depois do autor, afirmou com exatidão: “Os ‘Exercícios Espirituais’ converteram tantas pessoas quantas são as letras escritas neles”. A partir de um questionamento básico para o ser humano, “o que desejo?”, o livro esclarece qual é a finalidade da nossa vida, o motivo pelo qual existimos, e portanto pelo que devemos lutar. O Homem foi criado para amar e servir a Deus; logo, se o que fazemos não é por e para Deus, ainda que em si mesmas possam ser boas, honradas e virtuosas, não têm sentido. Uma vida sem sentido é contraditória, repugna à Razão, ao bom senso e à vivência factual, pois todos os sentimentos, esforços e amores evidenciam um “por quê”, e portanto tal vida leva ao desespero – a depressão é hoje a pandemia do mundo ateizado. “Os Exercícios” levam à descoberta do óbvio, de que estamos nesta terra para amar e servir a Deus e assim alcançarmos a glória – à máxima grandeza, que Inácio aspirava, e todos nós – do Céu. Por isso o seu lema, “Tudo para a maior glória de Deus”. E o meio para este fim é entender que tudo o que foi criado materialmente, mas não só, é bom apenas na medida em que nos levam a Deus. Assim fica claramente resolvido o conflito de Inácio, e também nosso, da insatisfação e sensação de desperdício no empenho desordenado pelas coisas mundanas. Os “Exercícios Espirituais” são assim o nosso “dever de casa” nesta vida. Todas as circunstâncias servem, como meio para fazer somente a vontade de Deus, buscar só o que nos conduz à Salvação. E só na companhia de Maria chegamos, todos nós, e Inácio, à companhia de Jesus. Não foi só na redação dos “Exercícios” que se destacou Santo Inácio, mas em todas as suas atividades como fundador, pregador, administrador, etc., atividades apostólicas baseadas na santidade de vida – dando o exemplo prático da proposta dos “Exercícios”, de trabalhar com as criaturas na medida certa para o encontro com Deus. Sua têmpera também nos é exemplo de que não é possível seguir a Deus de modo tíbio. Temos um objetivo, o mais elevado possível, e um tempo limitado para alcançá-lo – não há sentido (desepero…) em não sermos resolutos. Neste sentido, cabem duas de suas sentenças: “Orai como se tudo dependesse de Deus, e trabalhai como se tudo dependesse de vós”; “Ninguém sabe o que Deus faria de nós, se não opuséssemos tantos obstáculos à sua graça”.
Oração:
Ó Senhor, que desejais que nos exercitemos sempre mais no caminho da santidade, auxiliando-nos para isso com a companhia de Maria Vossa Mãe e nossa, concedei-nos por intercessão de Santo Inácio de Loyola a graça de largarmos aos pés do altar da Vossa Cruz a espada do pecado que Vos produz chagas, e receber cada vez mais profundamente na alma os projéteis de amor com que quereis nos alvejar, e alvejar, de modo que com esta santa troca tudo façamos para a Vossa maior glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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