31 DE MARÇO

Balbina nasceu provavelmente em Roma. A data não é precisa, mas foi durante o pontificado do Papa Alexandre I (entre os anos 106-115). Seu pai, Quirino (São Quirino de Neuss), era tribuno e militar no exército do Império Romano; parece que foi carcereiro deste Papa, quando este foi preso por ordem do imperador (as fontes disponíveis citam Adriano, que governou entre 117-138, mas na morte de Alexandre I em 115 imperava Trajano, de 98 a 117).

Na cadeia, Alexandre, por meio de milagres, convertia muitos pagãos, e teria curado Balbina de grave enfermidade na garganta, o que levou tanto Quirino quanto a filha a abraçar a Fé católica, sendo batizados pelo Pontífice. Balbina, a partir de então, consagrou sua virgindade a Deus.

A privilegiada posição social do seu pai e suas qualidades pessoais a tornavam uma noiva cobiçada, sendo vários os seus pretendentes, porém ela foi fiel à sua consagração.

A época era de perseguição aos cristãos e Quirino e sua família foram presos, incitados a abjurar a Fé e adorar os deuses pagãos, sob ameaça de tortura. Não cedendo aos tormentos infligidos, pai e filha foram barbaramente decapitados, no ano de 132, provavelmente em 31 de março.

A vida de Santa Balbina era muito representada no teatro medieval, e por isso alguns dados a seu repeito podem ter sido algo fantasiados. Por exemplo, é a ela atribuída a descoberta das correntes que ataram São Pedro, e talvez em relação com a sua cura pelo Papa Alexandre I: este lhe teria dito para encontrar tais correntes e beijá-las com devoção para ter restabelecida a saúde.

As relíquias de Santa Balbina foram levadas para uma igreja de Roma no século VI, que a ela passou a ser dedicada, tornando-se Basílica Menor. O cemitério que leva seu nome, entre as vias Ápia e Ardeantina, pode ter sido chamado assim por uma confusão histórica, por causa de uma matrona romana, Balbina, que doara à Igreja o terreno para os sepultamentos.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
As virtudes cristãs, como a pureza e a castidade, não são um mero teatro, onde noções fantasiosas (incluindo o entendimento espúrio sobre o que seja “amor”), mesmo que bem intencionadas, possam tomar parte. Ao contrário, exigem o martírio da fidelidade, para se chegar à fidelidade ao martírio, se necessário for. Eis o exemplo dos santos, eis o ensinamento de Cristo, eis a Doutrina da Igreja, eis a vida que o católico deve viver. Hoje vemos o apelo ao sexo chegar a níveis realmente bizarros, pois além do desprezo à castidade são exaltadas também todo tipo de depravações. A inocência é vista como algo ridículo, e a malícia como um “amadurecimento”, quando, para Deus, mesmo o sexo lícito no matrimônio válido diante Dele não perde a noção da pureza; as relações físicas matrimoniais entre esposo e esposa, oferecidos pelo Senhor ao ser humano no contexto divino da participação, prazerosa sim, da coparticipação humana na geração de uma nova vida infinita (na qual o ser humano contribui com o corpo e Deus com a alma), e que nos faz imagem e semelhança de Deus, foi deturpada de tal modo que não apenas a perspectiva da geração da vida é perversamente considerada um “mal” que pode ser “evitado” pela contracepção artificial ou pelo crime de infanticídio – aborto –, como o ato sexual em si mesmo tornou-se não um modo de comunhão com Deus no Seu plano da Humanidade, mas algo indigno cuja vergonha é publicamente exposta como troféu. Entender um outro ser humano, ou a si mesmo, como um mero instrumento de prazer é ofender esta Humanidade querida por Deus, ofendê-Lo na Sua criação, tanto do corpo quanto da alma. Muitos foram (e continuam sendo) os avisos divinos e as advertências claras dos santos, de que grande parte das pessoas que vão para o inferno são culpadas exatamente dos pecados contra a castidade, o sexto Mandamento da Lei de Deus. “Quem tiver ouvidos, ouça” (cf. Ap 2,7): que ao menos os católicos cuidem de dar o exemplo, a partir da educação e orientação dos filhos e do combate e rejeição da pornografia, para que a decência não seja decapitada da vida particular e social, nos modos, nos trajes, e sobretudo na delicadeza da alma e das consciências, pois este é um dos caminhos mais básicos, essenciais e importantes dos que de fato creem em Deus, um dever e um direito, que de todos será cobrado no julgamento individual após a morte e a todos exposto no julgamento universal, quando da Parusia de Jesus. Que não haja confusão quanto ao nome do nosso cemitério: que nele esteja somente “corpo”, que será inevitavelmente degradado, mas também ressuscitado, e não “alma”, que poderá ser degradada, infinitamente, no inferno.

Oração:

Senhor, Deus de pureza, e do verdadeiro amor, concedei-nos pelo exemplo e intercessão de Santa Balbina buscarmos menos a saúde do corpo do que a cura das doenças da alma, para que não fiquemos acorrentados à cadeia do que é mundano, mas sepultarmos as concupiscências desta vida como meio para merecermos participar do infinito matrimônio que desejas com a Vossa Igreja. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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30 DE MARÇO

30 de Março – São João Clímaco
João Clímaco nasceu na Síria, por volta do ano 579. Da rica e nobre família recebeu ótima formação literária e educação religiosa, o que acrescentado à sua grande inteligência lhe prometia um futuro promissor na sociedade. Mas ele renunciou à fortuna da família e aos atrativos de uma boa posição social, escolhendo levar uma vida de oração na austeridade.

Aos 16 anos, João foi para o Monte Sinai na Terra Santa, onde vários mosteiros rudimentares surgiram após as perseguições romanas, no século IV, e se tornaram célebres pela hospitalidade para com os peregrinos e pelas bibliotecas que continham manuscritos preciosos, pois os eremitas se dedicavam à transcrição dos códigos e manuscritos antigos relativos à Bíblia e aos escritos dos Santos Padres. Lá buscou o mosteiro de Vatos, o atual Mosteiro (Ortodoxo) de Santa Catarina, um dos mais renomados na época, tornando-se discípulo do já ancião abade Martírio, mestre famoso.

João dedicou-se a um cotidiano de orações, estudos, trabalhos pesados e jejum continuado, deixando de comer qualquer tipo de carne. Saía da cela apenas aos domingos, para participar da Eucaristia, quando encontrava os outros monges, e deixava o mosteiro unicamente para colher frutas, raízes e outros alimentos para os eremitas, num vale próximo. Mas após a morte do seu mestre, retirou-se para uma vida mais solitária e ascética, vivendo numa gruta e estudando por 40 anos seguidos a vida dos santos, o que o tornou um dos mais eruditos acadêmicos da Igreja.

Mesmo isolado, sua santidade levou a que primeiramente os monges, e depois o povo, buscassem seus conselhos, orientação espiritual e bençãos. Aos 60 anos, foi unanimemente eleito como abade geral dos religiosos da serra do Sinai (hegúmeno, ou guia), e voltou a viver no cenóbio (monges morando solitariamente mas em proximidade geográfica e com algumas atividades em comum). Demonstrou grande sabedoria nesta atividade, organizou melhor a vida dos religiosos, e construiu uma hospedaria para os peregrinos e viajantes. Sua fama chegou até Roma; o Papa São Gregório Magno lhe escreveu, pedindo suas orações, e forneceu auxílios para os religiosos e para a hospedaria. Entre 579 e 586, recebeu o encargo de Vigário do Papa, mantendo correspondência com muitos padres do Sinai.

Escreveu muito neste período, destacando-se o livro “Escada do Paraíso”, (uma analogia com a Escada de Jacó, cf. Gn 28,10-17). “Klímax” em Grego significa ” escada” (e, no caso, a sua ascensão espiritual correspondente), e em função do livro este nome lhe foi acrescentado. Dele é conhecido apenas uma outra obra, “Ao Pastor”, provavelmente um curto apêndice da “Escada”.

A “Escada do Paraíso ou Escada da Ascensão Divina” apresenta, como num manual, a doutrina monástica para monges e noviços (mas também para nós), com 30 diferentes e progressivas etapas necessárias para alcançar a perfeição da vida da alma. Cada capítulo ou “degrau” aborda um tópico específico, mostrando as dificuldades que virão e como superá-las por meio das virtudes ascéticas. Os 30 degraus correspondem aos anos da vida de Cristo até o Seu batismo. Este verdadeiro tratado de vida espiritual se articula em três etapas: a primeira é a ruptura com o mundo e o retorno à infância evangélica, ou seja, o tornar-se criança, em sentido espiritual, mediante a inocência, o jejum e a castidade; a segunda é a luta espiritual contra as paixões: cada degrau corresponde a uma paixão, indica como vencê-la e propõe uma virtude correspondente; e a terceira trata das virtudes maiores na sobriedade do espírito, alimentada pelas virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade – correspondendo esta última ao fundamental, à experiência que pode levar a alma ao amor perfeito, mais do que a dura luta contra as paixões. O livro, de fato, termina com a citação de São Paulo: “Agora subsistem estas três coisas: a Fé, a Esperança e a Caridade; mas a maior delas é a Caridade” (1Cor 13,13).

Originalmente escrito simplesmente para os monges do mosteiro vizinho, a “Escada” rapidamente se tornou um dos mais lidos e amados livros espirituais do Império Bizantino.

Poucos anos depois, João voltou à vida eremítica, e faleceu em 30 de março de 649. É conhecido também como João da Escada, João Escolástico e João Sinaíta.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Recorrente é o fato de que os santos eremitas, buscando a solidão e encontrando a Cristo, não ficam sempre isolados, mas são procurados pelos irmãos, que buscam seu exemplo e seus conselhos. Assim é porque a Verdade atrai, e onde há almas, onde reside o Cristo, aí está a nossa verdadeira morada. Por isso, a Igreja é a nossa tenda nesta vida passageira, pois ela é também, propriamente, o Corpo Místico de Cristo, pelo qual somos abraçados e recebidos com amor. São João, pela sua santidade, chegou ao clímax do que é possível nesta vida. Para isso esvaziou-se das riquezas materiais, buscando nas alturas do Sinai a proximidade da vivência dos Mandamentos, ali recebidos por Moisés. Pela fidelidade ao Primeiro e mais importante deles, soube hospedar e acolher quem o procurava, orientando todos para Deus – pois só quem já está bem orientado pode indicar a direção correta. Neste sentido, dedicou-se também a redigir para o proveito dos irmãos. Já foi escrito que “A Escada do Paraíso”, antes de ser subida pelos homens, foi descida por Deus. De fato, a iniciativa sempre vem de Deus, que desejou nos criar, ofereceu-nos o Paraíso e, depois do Pecado Original, a Redenção. Inclinando-Se para os homens, o Senhor Se humilhou até a nossa baixeza, para que pudéssemos subir de novo, por Cristo e Maria, até o Céu. Cristo é o caminho para ascender, que passa necessariamente por Maria.

Oração:
Senhor, que nos destes os Mandamentos para a salvação, concedei-nos pela intercessão de São João Clímaco seguirmos em profundidade a altura dos Sacramentos, necessários para conseguirmos cumprir as Vossas leis, pois é no paradoxo de imitar o Vosso abaixamento grandioso até nós que seremos elevados à humildade que salva; quem mais dá é quem mais recebe, é rejeitando as riquezas do mundo que teremos um tesouro nos Céus, é servindo que reinaremos, por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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29 DE MARÇO

29 De Março -São Raimundo Lúlio

Raimundo Lúlio ou Raimundo Lulo (em Catalão, Ramon Llull) nasceu em Palma de Maiorca, na época Ciudad de Majorca, capital do reino, reino vassalo de Aragão (atualmente, capital da comunidade autônoma das Ilhas Baleares no Mar Mediterrâneo, pertencente à Espanha), no final de 1232 ou início de 1233. Isto foi pouco depois da conquista de Maiorca pelo rei Jaime I de Aragão, e o local sofreu assim forte influência catalã (região do nordeste espanhol que até hoje mantém cultura e língua próprias).

Sua família era cristã e de boa condição financeira, influente, e por isso foi enviada às ilhas para ajudar na sua cristianização, pois o arquipélago era então habitado principalmente por árabes e judeus. Raimundo cresceu assim numa condição de cultura mista.

Frequentava a corte de Jaime I e, aos 22 anos, como trovador da corte de Jaime II e seu menescal (isto é, chefe administrativo), casou-se com Blanca Picany, com quem teve dois filhos, Domenéc e Magdalena. Segundo ele mesmo, era uma vida frívola, vazia e libertina. Contudo, em 1263, após uma experiência mística, converteu-se verdadeiramente ao Catolicismo, e entrou como leigo para a Ordem Terceira de São Francisco. Dedicou-se à contemplação e ao estudo de línguas estrangeiras e teologia, com o objetivo de trabalhar para a conversão dos judeus e dos árabes. Em 1275, deixou a família para se dedicar a este serviço.

Neste seu empenho, desenvolveu uma vasta obra com grandes méritos em termos literários, linguísticos, técnicos, filosóficos, lógicos, teológicos, matemáticos, exegéticos, apologéticos: por exemplo, foi o primeiro autor a utilizar uma língua neolatina — o Catalão — para expressar conhecimentos científicos e filosóficos, e, assim como Dante é considerado o fundador do italiano padrão, ele o é do Catalão moderno, particularmente por conta do livro Blanquerna, possivelmente o primeiro romance europeu conhecido, publicado em 1270. Mas, além disso, grande parte dos seus 280 escritos o foram em Árabe, e ainda muitos em Latim e Occitano (ou Langue d’Oc, o dialeto de origem românica mais falado no sul da França e regiões próximas, e que sucumbiu ao uso internacional do Francês moderno, o Langue d’Oui, onde a palavra “sim” é oui e não oc).

Desenvolveu métodos argumentativos com base em sistemas de escolhas que antecedem os trabalhos de Borda (em 1770) e Condorcet (também do século XVIII) — respectivamente, a metodologia na qual candidatos (ou ideias, etc.) são ordenados segundo as preferências de cada eleitor de acordo com uma contagem, e os métodos “de paridade”, onde são comparadas de cada vez, sucessivamente, apenas duas opções, ganhando uma delas sequencialmente até um possível vencedor. Outros métodos seus de argumentação: o das “razões necessárias” (para O Livro do Gentio e dos Três Sábios, 1274-1276), o da automatização do pensamento, e o da combinação de atributos religiosos e filosóficos selecionados de várias origens (para Ars Generalis Ultima ou Ars Magna, “Grande Arte”, de 1305). O objetivo era sempre expor a Fé Católica de modo a argumentar com os que não a conheciam bem.

Para além do conteúdo religioso destas obras, seus métodos de raciocínio também influenciaram matemáticos e lógicos posteriores, como Gottfried Leibniz (pelo que Raimundo é reconhecido como um pioneiro da teoria computacional) e Giordano Bruno. Pode-se assim falar de um “sistema de Llullo” ou “llullismo”, que seria uma forma aprimorada de retórica e lógica, onde os argumentos de um debatedor eram desmontandos e remontados.

Por ser o mais importante filósofo, poeta, escritor, teólogo e missionário da língua catalã, e um destaque na literatura e religiosidade da Idade Média, Raimundo ficou conhecido como Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora não seja um dos 36 Doutores da Igreja Católica.


Algumas das suas obras mais importantes são: Livro da Ordem de Cavalaria (sobre ética cristã, c.1274–1276), O Livro do Gentio e dos Três Sábios (1274-1276), O Livro das Bestas (c. 1289–1294), O Livro do Amigo e do Amado, Escritos Antiaverroitas (sobre as interpretações do filósofo islâmico Averroes sobre Aristóteles, 1309–1311), Vida Coetânea (1311), O Livro da Lamentação da Filosofia (1311), Do Nascimento do Menino Jesus, O Livro dos Mil Provérbios e Félix, Ou o Livro das Maravilhas.

Em 1314, já muito idoso, Raimundo viajou para o norte da África. Os reis de Sicília e Aragão haviam recebido falsas informações, repassadas a ele, de que o governante de Túnis desejava conhecer o Catolicismo. Ao pregar o Evangelho, foi apedrejado por muçulmanos nesta cidade, e mercadores genoveses o embarcaram de volta a Maiorca; mas não resistiu aos ferimentos. A data do seu falecimento é usualmente referida como 29 de junho de 1315, mas seus últimos escritos, de dezembro deste ano, e outras pesquisas sugerem que ocorreu ela no primeiro trimestre de 1316.

Raimundo Lúlio é considerado mártir da Ordem Terceira Franciscana.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Grande é a obra de São Raimundo Lúlio, que reconhecendo o valor do estudo, em várias áreas, o utilizou para o bem, buscando a conversão dos árabes e judeus com quem convivia desde a infância. Verdade é que não todos serão eruditos, mas ao menos pelo exemplo o nosso apostolado, na vivência verdadeira da Fé, deve ser caminho para levar a Palavra de Deus aos irmãos, dentro e fora da Igreja. Isto, naturalmente, pressupõe um mínimo de conhecimento da sã Doutrina, o qual sempre pode e deve ser cultivado. Por outro lado, não é possível esperar que Deus providencia uma experiência mística especial, como aconteceu com São Raimundo, para levarmos a sério a nossa formação católica: na Sua misericórdia, o Senhor ofereceu uma tal oportunidade a ele, que levava uma vida mundana na corte, mas não é este o caminho usual para todos. De resto, muitas e muitas são as diferentes oportunidades, sejam mais ou menos místicas, que o Pai oferece a nós, Seus filhos, para a nossa conversão diária: fundamental é o mérito de reconhecê-las e aceitá-las.

Oração:

Senhor Deus de infinita sabedoria e conhecimento, concedei-nos, por intercessão de São Raimundo Lúlio, abandonarmos os vazios nesta vida, aprendendo como ele a falar a língua universal do Vosso amor e caridade, para, acatando a ordem primeira da Vossa vontade, levarmos aos irmãos não as falsas notícias, mas a Boa Nova da Vossa redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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28 DE MARÇO

Gisela nasceu em 985 na Baviera, Germânia (atual Alemanha). Filha do duque bávaro Henrique e de Gisela de Borgonha. Era a irmã mais nova de Henrique II da Alemanha, de Bruno, bispo de Augsburgo, e de Brígida, futura abadessa de Mittelmuenster.

Em 996 o rei Estevão da Hungria, por meio de emissários, a pediu em casamento. Gisela havia se consagrado a Deus no íntimo de seu coração, mas aceitou. Assim, em obediência e por providência divina, tornou-se a primeira rainha católica húngara. Através dela se converteu o rei, e com ele os seus súditos.

Gisela ajudou na construção e reparos de muitas igrejas, inclusive a catedral de Vezprim, para a qual doou ricos feudos. Fez questão de importar os mais destacados artistas da época, incluindo escultores gregos, para embelezar as obras. Além da importância religiosa e cultural que seu reinado obteve, sua benéfica influência política, através do casamento e da conversão da Hungria, permitiu que as boas relações com a Alemanha atravessassem os séculos.

Sofreu porém com a morte, primeiro de uma filha e logo depois de um outro filho. Suas outras duas filhas casaram e nunca mais as pôde ver, pois mudaram para lugares muito distantes. Em 15 de agosto de 1038, na festa da Assunção de Nossa Senhora, dia em que se consagrara anos atrás, seu esposo faleceu, sendo depois também canonizado. O filho Américo, que deveria sucedê-la no trono, igualmente morreu e foi canonizado.

Depois de tantas perdas familiares, os húngaros pagãos da oposição assumiram o poder e neutralizaram a sua influência junto ao povo, mantendo-a presa por vários anos e impedindo seu contato com quaisquer parentes do exterior, e confiscaram seus bens. Finalmente, em 1042, após vários anos de prisão, e de muitas negociações com o rei Henrique III, Gisela pôde retornar à Alemanha, onde se recolheu no mosteiro beneditino de Niedernburg na Baviera. Esta cidade era uma abadia principesca, significando que a abadessa eleita era, automaticamente, a princesa do Império Alemão. Por seus dons e experiência, pouco depois de sua entrada, Gisela foi eleita abadessa-princesa, governando com sabedoria e prudência.

Faleceu aos 80 anos, em 7 maio de 1065, e sepultada em Passau, na Baviera. Ficou conhecida como Santa Gisela da Baviera ou da Hungria, e seu culto, muito antigo, é ainda intenso no norte da Itália, na Hungria, Alemanha, França, por todo o Oriente, e nos países onde os beneditinos se instalaram.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Santa Gisela foi soberana na evangelização, iniciando pelo seu próprio lar, o que permitiu à Igreja ser coroada com outro grande santo, na pessoa de Estêvão. E por eles, todo um país pôde se beneficiar da Palavra de Deus e das suas naturais consequências, como a boa cultura cristã, que valoriza a Arte e assim contribui para embelezar os lugares, como os templos, tanto materiais quanto espirituais. Como é importante a mentalidade católica, nos cargos de direção! Mas a nobreza evangelizadora de Gisela não se manifesta somente nos bons e favoráveis momentos, pois seu exemplo de confiança na Providência, após grandes perdas humanas e de pertences, e também da liberdade física, é testemunho ainda maior. Como Jesus, ela inicialmente foi valorizada pelas belas obras, depois suprimida por inveja e cobiça, para então ser recompensada definitivamente com a realeza espiritual, como abadessa, princesa e santa. Nobre também foi São Guntrano, na sua conversão: franco por condição, também o foi na honestidade de alma. Reconhecendo que os casamentos por conveniência mundana não geram frutos, uniu-se convictamente à Igreja, o que o tornou pai de sacras obras.

Oração:
Senhor, que dignificais a Humanidade com os dons da Vossa imagem e semelhança, concedei-nos pela intercessão de Santa Gisela e São Guntrano o casamento firme e sincero da vontade com o serviço à Vossa Igreja, de modo que a beleza das boas obras seja a regente das nossas ações, dignas dos herdeiros da Pátria Celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

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27 DE MARÇO

São Ruperto, também conhecido como Ruprecht, foi um influente bispo do século VII fundador da diocese de Salzburgo, na atual Áustria. Nascido em uma família nobre da França, ele dedicou sua vida ao serviço religioso e à propagação da fé cristã na região dos Alpes. Sua obra missionária foi crucial para a disseminação do cristianismo entre os povos germânicos que habitavam aquela área.

Como bispo, São Ruperto enfrentou numerosos desafios, incluindo a hostilidade de tribos pagãs locais e a oposição de líderes políticos. No entanto, sua determinação e fervor espiritual foram fundamentais para estabelecer uma base sólida para a fé cristã na região. Ele foi um exemplo de liderança e coragem, inspirando tanto os fiéis como seus contemporâneos.

Além de suas atividades missionárias, São Ruperto é lembrado por sua contribuição para o desenvolvimento cultural e educacional da região. Ele fundou várias escolas e mosteiros, onde a educação e a espiritualidade eram cultivadas. Seu legado perdura até os dias de hoje, influenciando não apenas a vida religiosa, mas também a história e a cultura da Áustria e da Baviera.

São Ruperto é venerado como um santo não apenas pela Igreja Católica, mas também por outras denominações cristãs. Sua festa é celebrada em 27 de março, o dia de sua morte, e ele é invocado como padroeiro de Salzburgo, dos padeiros e dos fazendeiros. Sua vida e obra continuam a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo, lembrando-nos da importância da fé, da perseverança e do serviço aos outros.
Reflexão:

Em uma reflexão sobre a vida de São Ruperto, podemos aprender valiosas lições sobre dedicação, humildade e confiança na providência divina. Seu exemplo nos lembra que, mesmo diante das adversidades, é possível fazer a diferença e deixar um legado significativo através do serviço desinteressado e do amor ao próximo.

Oração:
Ó, Deus, que pelo bispo São Ruperto fizeste crescer a vossa Igreja com a pregação do Evangelho e com a fundação de mosteiros e escolas, concedei-nos, por sua intercessão, perseverar na fé e no amor, para que, seguindo seu exemplo, possamos servir-vos com fidelidade e generosidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

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26 DE MARÇO

26 de março São Bráulio

São Bráulio nasceu na Hispânia (Espanha), por volta de 585-590, não se sabe ao certo se em Gerona, Sevilha, Toledo ou Saragoça. Seu pai Gregório e seu irmão mais velho, João, foram bispos; outro irmão, Frumiano, era religioso (na sua mesma abadia), sua irmã Pompônia abadessa, e somente sua irmã Basila foi casada, e depois viúva. Com 20 anos, entrou para a abadia de Santa Engrácia, onde seu irmão João o ajudou nos estudos elementares, de cultura clássica, religião e vida ascética.

Dez anos depois, muda-se para Sevilha, o maior centro cultural da Espanha na época, para aprofundar-se nos estudos, e ali tornou-se grande amigo e aluno do maior sábio do seu tempo, Santo Isidoro de Sevilha. Este o chamava de “amadíssimo senhor meu e caríssimo filho”. Bráulio muito estimulou Isidoro para que escrevesse sua obra enciclopédica, e acabou por receber dele o encargo de revisá-la e ampliá-la, em 637. Na verdade, São Bráulio foi o melhor escritor espanhol de seu tempo, depois de Santo Isidoro, embora tenha trabalhado mais como incentivador da cultura do que como escritor. Assim escreveu por exemplo a Vita (vida) de Santo Emiliano, mas sobretudo preocupou-se com a formação e enriquecimento de bibliotecas (muito da sua correspondência com Isidoro trata de manuscritos e aquisições para elas).

Em 625 volta para Saragoça, onde o irmão João era arcediago (dignitário da Igreja que recebe do bispo certos poderes junto aos párocos, curas, abades etc. no âmbito diocesano, para a administração de afazeres eclesiásticos) e depois bispo, e o sucedeu em ambos os cargos, assumindo a diocese em 631. Este foi um período difícil, quando grassaram pestes, flagelos e carestias, exigindo muito do seu zelo.

São Bráulio participou de três concílios em Toledo, do quarto ao sexto (respectivamente em 633, 636 e 638). Neste último, foi incumbido pelos demais participantes (que incluíam alguns Metropolitas, isto é, arcebispos, portanto de maior dignidade eclesiástica) de comunicar-se com o Papa Honório I para esclarecer a ele a posição dos bispos, que criticara por negligência nas suas funções.

São Bráulio também aconselhou e foi confidente de vários reis visigodos. Recesvinto, filho de um deles (Quindasvinto), recomendou que Bráulio fosse coroado como “rei associado”. Por tudo isso, Bráulio foi importantíssimo na consolidação da Igreja na região espanhola.

Praticamente cego e esgotado em 650, São Bráulio faleceu em 651, sendo considerado padroeiro das missões do Evangelho.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Além das grandes obras de caridade no bispado, diretamente voltadas para este serviço, como o auxílio aos necessitados dos flagelos, temas de concílios e diplomacia eclesiástica, São Bráulio destacou-se ainda mais pela sua contribuição direta e indireta na cultura, com seus próprios escritos e incentivo a outros autores – notadamente ninguém menos que Santo Isidoro – e impulso para a criação e aumento das bibliotecas. Naturalmente, visava que se enriquecessem verdadeiramente, com apenas volumes de valor; a literatura pagã, esta considerava “vão palavreado, frivolidade que satisfaz a inquietação humana, fumo impalpável e vento de ostentação”. Por contraste, ao pedir uma cópia de “Etimologias” de Santo Isidoro, assim se expressa ao autor e amigo: “Pensa que não tens o direito a conservar escondidos os talentos, nem a fugir à distribuição dos alimentos que te foram confiados. Abre a mão, reparte os teus bens entre os necessitados, para que estes não pereçam de fome”. Vê-se aqui quão claramente São Bráulio entendia o valor do alimento espiritual; e realmente, o alimento mais necessário ao Homem, sem desfazer da sua necessidade física, é o pão Eucarístico. Uniu portanto perfeitamente a correta valorização da cultura sem confundi-la com a mera vaidade do saber, dando o exemplo de que a verdadeira sabedoria não é simples conhecimento, mas Caridade. Cego para as coisas mundanas, esgotou-se na erudição da alma com suas boas obras, das quais ensinar os ignorantes é uma das mais importantes.

Oração:

Deus de infinita sabedoria, que desejais que não somente cresça a nossa Fé, mas também a nossa Razão, a qual também nos destes para embasar corretamente o que cremos, concedei-nos por intercessão de São Bráulio saber valorizar a cultura, tanto pessoal quanto como nação, e mais ainda como Igreja; pois os indivíduos, países e fiéis mal formados são a presa fácil do demônio. E deste modo, alimentando-nos da Palavra e provendo este santo alimento aos irmãos, façamos como ele a nossa parte na consolidação da Igreja nesse tempo, de modo a podermos ser futuramente associados ao Rei dos Céus que sois Vós mesmo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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25 DE MARÇO

25 de Março – São Dimas
Informações diretas a respeito deste santo nos dão apenas os Evangelhos sinóticos, e neles não está incluído o seu verdadeiro nome. O certo, portanto, é que foi um dos dois outros crucificados com Jesus. O relato a seu respeito é suficientemente sucinto para ser reproduzido: inicialmente, como o outro condenado, insulta Jesus (Mt 27,44; Mc 15,32); depois, certamente pela graça de Deus e talvez por observar o comportamento de Cristo, partilhando da Sua situação, muda de atitude: “Um dos malfeitores crucificados O insultava: ‘Não és Tu o Cristo? Salva-Te, então, a Ti mesmo, e a nós também!’ Mas o outro o repreendia: ‘Tu, que sofres a mesma pena, não temes a Deus? Para nós, o castigo é justo: pagamos nossos crimes. Mas Este não fez nenhum mal!’ E continuou: ‘Jesus, lembra-Te de mim quando entrares no Teu reino!’ Jesus lhe respondeu: ‘Eu te asseguro: hoje mesmo estarás Comigo no Paraíso!’” (Lc 23,39-43).

A Tradição nos lega o seu nome como Dimas, “o bom ladrão” por causa do seu arrependimento, e o do “mau ladrão”, Simas, que até o fim insulta Jesus. (“Dismas” aparece no século IV, no Evangelho apócrifo de Nicodemos, ou Atos de Pilatos). Também, pela Tradição, conta-se que, durante a fuga da Sagrada Família para o Egito, ela teria sido atacada por ladrões, mas defendida por um outro – Dimas, egípcio e não judeu –, honrando um código de conduta de bandidos segundo o qual eles sempre poupariam crianças, mulheres e idosos.

Este seria, assim, o motivo da graça do seu arrependimento de última hora, mas há também outras histórias sobre a sua vida para esta justificativa. Estes dados contudo não podem ser considerados absolutamente seguros, e não são necessariamente dignos de aceitação. Quanto ao nome (assim como por exemplo os dos pais de Nossa Senhora, Joaquim e Ana, também oriundos de escritos apócrifos), tem muito menor importância, e não há mal em que a Igreja o adote.

Dimas com certeza vivera praticando crimes graves, pois a morte de cruz era reservada principalmente aos piores criminosos e escravos, e ele mesmo admite a sua culpa e reconhece a justiça da punição; é inclusive provável que a colocação de Jesus entre dois tão reconhecidos e execrados malfeitores fosse um adendo ao escárnio que quiseram infligir ao Senhor. Faleceu depois de Jesus (cf. Jo 19,31-33), na mesma tarde, e pela promessa do Cristo (Lc 23,43) sabemos com segurança que foi diretamente para o Céu.

São Dimas é o protetor das casas contra roubos, e padroeiro dos prisioneiros, dos condenados, dos arrependidos de última hora, dos agonizantes, e da boa morte. A Igreja comemora sua festa a 25 de março pois é a data tida como o dia da crucificação do Senhor.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
São Dimas foi a primeira conquista de Jesus e Maria no calvário; o primeiro santo a entrar no Céu (“Ainda hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Sua atitude de sincero arrependimento evidencia e exalta a infinita misericórdia do Senhor, que nos dá a oportunidade da salvação até o último instante nesta vida. Pelo seu relativamente curto, mas intenso, tempo de penitência, na cruz, não passou pelo Purgatório. É um caso único e privilegiado de santidade, pois foi canonizado ainda em vida, pelo próprio Cristo (de fato, os santos foram reconhecidos oficialmente pela Igreja – ainda que desde sempre Maria e os apóstolos, por exemplo, fossem venerados de modo imediato – apenas a partir do ano 999, e em muitos casos num processo com séculos de duração). Este mérito lhe é devido, pois enquanto o mau ladrão blasfemava, São Dimas reconheceu e confessou a própria culpa, aceitando a punição; demonstra claramente a sua Fé, pois pede a Jesus a salvação, reconhecendo Nele a divindade e realeza; e foi o único a defender Jesus no calvário, ao recriminar o outro condenado que O insultava. Fica evidente que, apesar da sua perversa vida pretérita, em algum momento Dimas ouvira falar de Jesus, e a Sua proximidade física e de condenação na cruz lhe valeu um exame de consciência. Nós temos intimidade muito maior com o Senhor, na Igreja e nos Sacramentos, particularmente na Eucaristia. Seria de esperar que tivéssemos ao menos um igual exame de consciência, e de preferência não à última hora. Afinal, temos muito mais tempo para defender a Cristo, também no Seu Corpo Místico que é a Igreja, e que continua sendo crucificado no nosso século. “Dimas”, aliás originalmente “Dismas”, significa “aquele que nasceu ao pôr do sol”; sua vida começou quando findavam seus dias; nós porém renascemos cedo, no Batismo, e fomos chamados a trabalhar desde as primeiras horas na vinha do Senhor (cf. Mt 20,1-16).

Oração:
Senhor, Pai de infinita misericórdia, por intercessão de São Dimas, concedei-nos a graça de participarmos desde cedo da Vossa crucifixão, estando ao Vosso lado no combate ao pecado, na defesa da Vossa presença, realeza e divindade, expiando nossos erros com o reconhecimento e aceitação da Vossa bondade e caridade, sem deixar passar oportunidade de humildemente Vos pedir confiadamente as graças necessárias para realizar as boas obras e estar Convosco no Paraíso. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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24 DE MARÇO

24 de Março – Santa Catarina da Suécia –
Caterina nasceu em Vadstena, Östergötland, na Suécia, no ano de 1331. Foi a sexta de oito filhos de Santa Brígida da Suécia e Ulf Ulphon, Príncipe da Nerícia na Suécia, parentes da família real sueca, tendo assim um lar nobre, rico e, principalmente, intensamente cristão, com a mãe santa e o pai piedoso.

Com sete anos, ela e sua irmã Ingeborg foram confiadas ao mosteiro cisterciense de Riseberg, pois sua mãe fôra convocada pela Corte sueca como governanta de Bianca de Namur, jovem noiva do rei Magnus Eriksson. Nesta abadia, as irmãs a instruíram e desenvolveram sua natural vocação religiosa, já preparada por Santa Brígida.

Cedo o diabo a perseguiu. Numa noite, tomando a forma de um touro, jogou-a com os chifres para fora da cama, tentando matá-la. Os gritos de Catarina atraíram a abadessa, à qual o demônio aparaceu dizendo: “Com que gosto eu teria acabado com ela, se Deus me tivesse dado licença”.

Quando Santa Brígida deixou Estocolmo, anos mais tarde, em peregrinação com o marido, Catarina e Cecília, sua irmã, foram transferidas ao convento dominicano de Skenninge, para prosseguir nos estudos. Com 14 anos terminou sua formação, e seu pai, voltando de Santiago de Compostela com a esposa, desejou que a filha se casasse com um nobre de grande virtude, Edgar von Kyren. Catarina aceitou por obediência, mas, de comum acordo, os esposos mantiveram a castidade, numa vida de oração, jejuns e penitências. Mais tarde, Edgar ficou doente e paralítico, sendo cuidado por ela.

Em 1349 morreu o pai de Catarina, e Brígida dedicou-se totalmente à vida religiosa. Iniciou com uma peregrinação a Roma, para visitar os túmulos dos Apóstolos obtendo indulgências. Com a autorização de Edgar, Catarina foi com ela. Estando as duas em Roma, faleceu também Edgar. Brígida então a convidou a permanecer na Itália.

O diabo começou a tentá-la, de modo a que sua estadia em Roma parecesse aborrecida, e começou a desejar a volta para a Suécia, sentindo solidão e depressão; vivia triste e emagreceu. Sua mãe e seu confessor a aconselharam a ficar. Mãe e filha recorreram a Nossa Senhora para ter um esclarecimento, e a Virgem lhe apareceu em sonho, com ar severo, repreendendo-a por querer desistir da sua missão e voltar à Suécia onde havia perigos para a sua alma. Ao acordar, Catarina correu a Santa Brígida, prometendo não abandoná-la mais.

Catarina, muito bela, teve que evitar muitos pretendentes inoportunos após a morte de Edgar. Um deles chegou a tentar raptá-la, mas foi distraído por um cervo, e ficou cego; recuperou a visão ao pedir perdão de joelhos a Catarina. Por isso as representações de Santa Catarina a mostram com um cervo próximo.

Brígida e Catarina tornaram-se religiosas e passaram a morar numa casa perto do Campo dei Fiori, vivendo em extrema pobreza, por mais de 20 anos, numa rotina de orações, visitas aos pobres e doentes e peregrinações, muitas vezes passando por perigos. Ambas fundaram o mosteiro de Vadstena, onde criaram a Ordem de São Salvador. Santa Brígida foi abadessa e as freiras passaram a ser chamadas de brigidinas.

Na volta de uma peregrinação à Terra Santa, Santa Brígida faleceu em Roma, e Catarina levou seu corpo para a Suécia. Desde então Catarina foi aclamada como abadessa de Vadstena. E como inúmeros milagres começassem a ocorrer pela intercessão de Santa Brígida, as autoridade religiosas e reais da Suécia lhe pediram para advogar em Roma a canonização da mãe. Ficou na Cidade Eterna cinco anos, morando num convento, mas com a morte do Papa Gregório XI e o cisma provocado pela ascensão de Urbano VI, a causa pouco progrediu. Mas lá Catarina operou grandes milagres, como a conversão de uma dama de má vida e ao impedir que o rio Tibre trasbordasse.

Voltando à Suécia, Catarina rezou por um dos acompanhantes que, caindo do carro, teve a perna esmagada por uma das rodas, e com o toque da sua mão ele ficou imediatamente curado. Na chegada ao mosteiro, viu um operário cair de um edifício e, novamente, após rezar e tocar nele com a mão, aconteceu a cura imediata.

Quando da sua volta, Catarina já estava doente, e sua saúde apenas piorou. Ela faleceu em 24 de março de 1381, com pouco mais de 50 anos, no convento de Vadstena. Deixou escrito um trabalho intitulado “Consolação da Alma”. É a santa mais conhecida e venerada na Suécia.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Conta-se que as águas do Tibre se acalmaram ao contato com os pés de Santa Catarina, e foi pelo toque de suas mãos, precedidas de oração, que se curaram fraturas. Os milagres de restabelecimento e consolidação das almas quebradas é sempre um toque da mão do Senhor, que nos afaga no Seu amor cicatrizante. E mais: também aos pés de Cristo, firmados para nós na Cruz, devem sossegar nossas almas, para que delas só transborde amor, e o curso de nossa alma siga como o do Jordão, batizado pela imersão de Cristo. Nisto imitaremos as virtudes de Santa Catarina, que tanto bem fez ao próximo porque quis peregrinar a vida inteira na busca da santidade. Como ela seguiu fielmente Santa Brígida, também nós devemos seguir a Mãe; e como ela advogou pela canonização materna, devemos nós lutar pela santidade pessoal, para que seja reconhecida não talvez pelos homens, mas por Deus. Uma santa família costuma gerar santos. Assim foi com Santa Brígida, que de berço foi conduzida a Deus pela bem-aventurança caseira, e que, certamente, gerou muitos filhos espirituais para o Pai. É este tipo de origem, de gênese, que desde o princípio a Trindade desejou que o ser humano chegasse à plena revelação, apocalipse, do Seu infinito amor, e é no lar da Igreja que todos os irmãos devem crescer para poder chegar à morada Celeste e definitiva.

Oração:
Ó Deus, que desejais a nossa santidade, segurança e salvação, concedei-nos pelo exemplo e pela intercessão de Santa Catarina da Suécia a santificação das nossas famílias, e a humildade e determinação de ouvir a Vossa Igreja e fugir dos chifres da tentação, com que o diabo, explícita ou sutilmente, nos ataca para nos afastar do Caminho, Verdade e Vida que é Jesus, e nos matar a alma. Pelo mesmo Cristo Senhor Nosso, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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23 DE MARÇO

23 de Março – São Turíbio de Mongrovejo

Turíbio Alfonso de Mongrovejo nasceu em Maiorca, Espanha, em 1538, numa nobre e rica família. Estudou em várias cidades, Valadolid, Santiago de Compostela, Salamanca, Oviedo, e na Universidade de Coimbra. Advogado e doutor em Direito Canônico, foi nomeado juiz supremo do Tribunal da Santa Inquisição em Granada. Lecionava na Universidade de Salamanca, quando Felipe II, rei da Espanha, ciente das suas qualidades, solicitou ao Papa Gregório XIII que o nomeasse arcebispo da América Espanhola – na época, a escolha para o episcopado era diferente do modo atual. Turíbio, após um discernimento, aceitou, e recebeu de uma vez todas as ordens eclesiásticas, para em 1581, aos 41 anos, ser enviado para a Ciudad de los Reyes, atual Lima, capital do Peru.

Turíbio lá encontrou uma situação de miséria espiritual, moral, cultural, material e humana dos povos indígenas, pois os descendentes dos conquistadores, abusando dos seus privilégios e governando de fato ao invés do Vice-Rei, exploravam as populações locais; ao mesmo tempo, o clero era fraco e submisso a eles. O bispo então iniciou um trabalho de recuperação do clero, dando o exemplo de rica vida espiritual com oração e meditação, restaurando a disciplina e obrigando os sacerdotes a se instruírem. Também nisto deu exemplo, aprendendo as línguas locais, Quéchua e Aymara, de modo a comunicar a Igreja com os índios.

Com isso, em tempo foi possível publicar o Catecismo da Igreja Católica nas línguas indígenas, o primeiro na América do Sul, além do Espanhol. Construiu igrejas e escolas, e em 1591 fundou o primeiro Seminário da América Latina. Enfrentou a arbitrariedade dos colonizadores, defendendo os índios, que passaram a venerá-lo.

Dos 25 anos de episcopado, 17 foram dedicados a viagens missionárias a pé ou a cavalo num vastíssimo território, até mesmo além das fronteiras peruanas, por cerca de 40 mil quilômetros, numa das geografias mais acidentadas do mundo, desde as neves dos Andes até os desertos à beira do Pacífico. Segundo seus próprios cálculos, Turíbio chegou a crismar pessoalmente 90 mil fiéis, incluindo três futuros Santos: São Martinho de Porres, São Francisco Solano e Santa Rosa de Lima. Acudiu os peruanos quando a peste se abateu sobre o país.

São Turíbio criou também centenas de paróquias, e organizou 13 sínodos entre diocesanos e provinciais, e um Concílio pan-americano. Estes encontros formaram a estrutura legal e organizacional da Igreja Católica da América Espanhola, que dura até hoje. O Sínodo Provincial de Lima em 1582 se destacou historicamente, sendo comparado em importância ao Concílio de Trento. Conta-se que nesta ocasião o bispo desafiou os colonizadores, que se presumiam muito inteligentes, a aprenderem a língua indígena, ao que todos eles se calaram.

A necessária implantação das diretrizes do Concílio de Trento o colocaram seguidamente em confronto com vice-reis, com o Conselho das Índias e com o próprio rei, aferrados às ingerências do poder civil na Igreja.

Adoentado, com 68 anos, faleceu na cidade de Sanã, deixando seus pertences e tudo o mais que possuía, incluindo as roupas do corpo, para os pobres e os que trabalhavam para ele. Fez questão de receber o viático, isto é, a última Eucaristia em preparação para a morte, numa Capelinha indígena. Faleceu no dia 23 de março de 1606, numa Quinta-Feira Santa.

 São Turíbio de Mongrovejo é um dos maiores apóstolos da América Latina e da história da Igreja. Apóstolo e Padroeiro do Peru, é igualmente padroeiro do episcopado latino-americano.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
Muitos e enormes são os exemplos de São Turíbio, mas salta à vista a sua fidelidade à Mitra que lhe coube, agindo como verdadeiro Apóstolo pelo exemplo, autoridade e serviço. Não se intimidou com as pressões e dificuldades, quer do acidentado terreno geográfico ou das relações humanas, impondo-se o trabalho missionário e sabendo impor a disciplina e os valores maiores do Evangelho sobre o poder mundano (isto é, os abusos ao legítimo poder civil). Para com os interesses vis não teve respeitos humanos ou complacências, mas coragem de espírito e de ação. Na Igreja, atuou no que era óbvio e necessário, exigindo do clero a santidade, a disciplina, a obediência antes a Deus do que aos homens, e o estudo necessário para se fazer comunicar a Boa Nova. Elevou e plenificou assim a sua primeira formação, advogando a causa de Deus e ajuizando com sabedoria os rumos do Catolicismo na América do Sul. Que saibamos venerá-lo e à sua obra, correspondendo e agradecendo a ele e a elas como fizeram os primeiros filhos desta terra, para podermos ser assim também dos primeiros filhos no Céu.

Oração:
Senhor Deus, Pai que educais e salvais, providenciando sempre a direção da Vossa Igreja, concedei-nos por intercessão de São Turíbio de Mongrovejo a graça da firmeza no Vosso serviço, vencendo pela caridade e verdadeiro interesse pelo Bem do próximo quaisquer terrenos desta nossa viagem temporária de peregrinação e missão, e que, especialmente, o seu santo exemplo de conquistar novos continentes para Cristo seja seguido por todo o clero, a começar do episcopado no mundo inteiro. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho Rei do mundo, e Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas. Amém.
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22 DE MARÇO

22 de Março – Santa Léia

Léia viveu por volta do ano 370 em Roma, Itália. Sua família era nobre e rica, e ela recebeu ótima formação cristã, sendo muito piedosa. Jovem, casou-se, porém não teve filhos, tendo logo ficado viúva.

O costume da época seria que de novo se casasse, e teve por pretendente o cônsul romano Vécio Agorio Pretestato, prefeito da cidade. Este seria um casamento mutuamente vantajoso, com prestígio e privilégios para ambos, dada a sua nobreza e o cargo e riqueza do cônsul, ainda maior do que a da sua família.

Léia, contudo, recusou o pedido, pois sentia-se atraída para uma vida totalmente consagrada a Deus. Era amiga de outra nobre e viúva, Marcela, depois mártir, e também canonizada; Marcela conhecia São Jerônimo, que morou em Roma antes de ir para a África e a chamava de “a glória das damas romanas”. No seu palácio em Aventino (uma das sete colinas onde foi fundada a Cidade Eterna), Marcela abriu uma escola de estudo das Sagradas Escrituras e de orações para mulheres que desejavam levar uma vida ascética e austera, uma comunidade que se tornou um dos primeiros mosteiros fundados e dirigidos por Jerônimo, e da qual ela era a abadessa. Léia convivia com as irmãs da comunidade e participava das suas atividades, e, sentido-se vocacionada, tornou-se monja.

Trocou assim uma vida luxuosa por uma pequena cela, dedicando-se à oração (muitas vezes ao longo de toda a noite), jejuns, penitência e caridade. Vendeu seus ricos vestidos, doando o dinheiro aos pobres, e passou a vestir-se com um rústico hábito feito de saco. Escolhia as tarefas mais humildes no mosteiro, agindo como serviçal e escrava das irmãs. Um seu cuidado especial era praticar boas ações de forma escondida, para não receber elogios, reconhecimento ou recompensas. Assim viveu por vários anos, e por sua santidade foi eleita Madre Superiora, função que exerceu até o seu falecimento em 384.

Neste mesmo ano, faleceu seu antigo pretendente, o cônsul Vécio. Ao saber destas mortes, São Jerônimo, que a conhecera pessoalmente, e que já então vivia em Belém, escreveu uma carta às religiosas do mosteiro, que ainda dirigia à distância, carta esta a única fonte sobre a vida de Santa Léia; na missiva, ele compara a situação do cônsul, que antes, riquíssimo e vestido com finas vestes de púrpura, estava agora envolto pela escuridão, ao passo que Léia, que escolhera vestir-se com roupa de saco, estava agora revestida de luz e glória infinitas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O fecundo matrimônio espiritual de Santa Léia com o Senhor gerou muito mais vida do que o seu estéril casamento terreno; ela, como outros santos e santas, é a prova concreta de que a virgindade dedicada a Deus é sempre fértil, isto é, gera verdadeiramente grande quantidade de filhos para Deus. Urgente é no século atual a valorização da castidade consagrada, pessoal ou formalmente, como caminho certo de santidade. A verdadeira riqueza, a pérola a ser adquirida pelo emprego de todos os bens disponíveis (cf. Mt 13,44-46) é a prisão no serviço a Deus: a cela de Deus é a liberdade do Homem, e Santa Léia de fato vendeu o que possuía para encerrar-se no seu pequeno quarto, de onde abriu-se a ela a imensidão do Céu. A plenitude do espírito não pode nunca estar confinada na matéria, e até mesmo essa será transformada no Paraíso, como o Corpo Glorioso do Senhor, caso contrário não pode acompanhar o esplendor das almas salvas. Creio que uma observação pertinente é que São Jerônimo não explicita que Vécio era necessariamente mau, nem se diz que taxativamente fosse condenado ao inferno; mas não dedicou sua vida, como Léia, ao amor a Deus e ao próximo, e na sua morte, ao contrário do caso dela, pode-se apenas dizer com segurança que ficou nas sombras, implicando sim (e no mínimo) numa vida apagada, enquanto que ela certamente está na Luz pela santidade: sem dúvida perspectiva muito melhor e desejável, também para nós.

Oração:

Senhor Deus Todo-Poderoso, que Vos fizestes servo para nos dar o exemplo e nos salvar, concedei-nos pela intercessão de Santa Léia não buscarmos o destaque nesta vida, mas como ela, fazer o bem na quietude e discrição, revestidos da verdadeira humildade, de modo a estarmos com as vestes apropriadas para poder participar do banquete celeste que nos preparastes. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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21 DE MARÇO

21 de Março – São Nicolau de Flue
Nicolau nasceu em 1417 na cidadezinha de Flüe, Sachseln, no Cantão suíço de Obwalden, então Confederação dos oito Cantões da Suíça central. De uma família de camponeses, permaneceu analfabeto por toda a vida, e desde a juventude desejava a vida religiosa, mas ajudou o pai em serviços do campo.

Entre 1440 e 1444, teve que partir como soldado e depois como oficial, sempre com comportamento exemplar, contra o cantão de Zurique, que havia se rebelado contra a Antiga Confederação Helvética. De volta à casa e a pedido do pai, casou-se com Dorothy Wiss, filha de agricultores, num matrimônio feliz. Tiveram dez filhos, dos quais vários seguiram o sacerdócio; um dos netos, Conrado Scheuber, faleceu com fama de santidade.

Reconhecido pelo seu senso de justiça, integridade moral e retidão de consciência, foi solicitado a assumir muitos cargos públicos, como conselheiro, deputado na Dieta federal, e por nove anos juiz no seu Cantão. Recusou o cargo maior de Landamman (governador) do seu Cantão. Como pai de família, não podia dedicar-se à oração como gostaria, mas quando completou 50 anos Deus lhe concedeu as três graças que desejava: o consentimento de sua esposa e filhos para partir, a ausência da tentação de voltar e a possibilidade de viver sem beber e comer. Abandonou os cargos públicos e retirou-se para um local perto de casa, num lugar íngreme, chamado Ranft, onde construiu uma cela de tábuas (depois, transformada em capela pelos habitantes locais). Viveu ali 20 anos em oração, penitências e jejum; ia à Missa nos domingos e dias santos, sempre descalço, mesmo no gelo; dormia numa tábua usando uma pedra por travesseiro, vestia-se com roupas rudes e, de acordo com as provas de várias testemunhas ao longo do tempo, alimentava-se somente da Eucaristia, tendo saúde e boa disposição física, mental e espiritual.

Não conseguiu permanecer totalmente solitário, pois era procurado para conversas, conselhos e explicações religiosas, a todos, simples e poderosos, atendendo com caridade e boa vontade. Passou a ser conhecido carinhosamente como Irmão Klaus. Mediou com sucesso negociações que evitaram uma guerra iminente entre a Suíça e a Áustria. Em 1481, acedeu aos pedidos para intervir na Assembleia de Stans, onde conseguiu a unificação dos partidos na Confederação Suíça, impedindo uma guerra fratricida no país. Em 1482, foi chamado para resolver uma questão entre Constança e a Confederação sobre o exercício do direito em Thurgau, e novamente restabeleceu a paz. Enorme é o seu mérito em conciliar protestantes e católicos, sendo por ambos respeitado e amado.

Sua capacidade de reconciliação, inimiga de violência, guerra e conquistas ambiciosas, e também alianças comprometedoras com outras nações, muito influenciou o seu povo, e há um consenso de que, se a Suíça é um país pacífico e que raramente se envolve em conflitos mundiais, isto se deve à sua influência.

São Nicolau faleceu em sua cela de Flüe, em 1487, no dia em que completava 70 anos. Considerado um dos maiores místicos da Igreja católica, é o santo mais popular e conhecido na Suíça, de onde é padroeiro e chamado de Pai da Pátria.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
São Nicolau de Flüe só desejava a Deus – e por isso conquistou uma nação. Soube ele esperar os tempos de Deus, até alcançar o que mais queria, realizando com humildade, obediência e amor cada passo específico da vida: filho que ajudou o pai, esposo que santificou a família, militar que combateu o bom combate, agindo com humanidade mesmo no fragor das batalhas (diz-se dele que “lutava com uma espada na mão e o Rosário na outra”); bom conselheiro, da paz e da reconciliação. Este tempo de preparação e espera, ele o chamava de “lima que aperfeiçoa e aguilhão que estimula”, sem revolta ou impaciência. Alcançou assim, já nesta Terra, a vida de Comunhão com Deus, no retiro e silêncio que almejava. Como Jesus, ele “fez tudo bem feito” (cf. Mc 7,37). São Nicolau rezava: “Ó meu Deus e meu Senhor, afaste de mim tudo o que me afasta de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, dê-me tudo o que me aproxima de Vós. Ó meu Senhor e meu Deus, livre-me do meu egoísmo e conceda-me possuir somente a Vós. Amém”. É preciso cuidado com o que queremos. Pois se realmente o desejarmos, vamos obtê-lo: seja com a ajuda de Deus, seja com a mão do diabo.

Oração:
Pai de amor e bondade, que nos desejas alimentar somente com o Pão da Vida, de modo que não nos envenenemos com as podridões mundanas, concedei-nos por intercessão de São Nicolau de Flüe fazer guerra somente contra o pecado, e desejar somente a reconciliação Convosco e a paz com os irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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20 DE MARÇO

20 de Março – São Martinho de Braga
Martinho nasceu na Panônia, atual Hungria, no século VI, provavelmente no ano de 518. Jovem, foi para o Oriente, onde estudou Grego e ciências eclesiásticas, com tal distinção que Santo Isidoro o chamou de ilustre na Fé e na Ciência, e São Gregório de Tours o considerava como um dos homens insuperáveis do seu tempo. Voltando ao Ocidente, continuou os estudos, em Roma e na França, tendo a oportunidade de conviver com as pessoas de maior eminência em santidade e saber da época. Em especial, visitou o túmulo de São Martinho de Tours, de quem era especialissimamente devoto.

Foi então que conheceu o rei Charrico dos suevos. Este era um povo de origem germânica que invadiu a Península Ibérica (Hispânia do Império Romano) em 409, tendo ali permanecido até 585, quando foram derrotados pelos visigodos; inicialmente ocuparam a antiga província romana da Galécia (atual norte de Portugal e Galiza), estendendo-se ao Rio Tejo, na região da Lusitânia, e sua capital era Bracara Augusta (hoje Braga). Martinho acompanhou Charrico na volta ao seu reino, em 550, e apesar de que desde 448 a Galécia abraçava o Cristianismo, ali ainda havia restos do gentilismo (isto é, paganismo) e expansão do arianismo, por causa da grande ignorância religiosa.

Martinho foi um dos principais obreiros da cristianização e do monaquismo nesta região da Península. A partir de Dume, aldeia próxima de Bracara Augusta, onde fundou um mosteiro, iniciou sua evangelização. Caso único na história da Igreja, a Diocese de Dume por ele criada incluía apenas o mosteiro, e em 556 Martinho foi seu primeiro bispo, pois o bispo de Braga, que lhe concedeu o episcopado, reconheceu sua santidade, zelo e saber.

Em 559 o arianismo já estava praticamente extinto no reino suevo. Em 569 Martinho assumiu também a Sé de Braga, que, como capital do reino e sede episcopal, ganhou importância duradoura, sendo até hoje a Sé metropolita, ou primaz, das dioceses no noroeste português. Ele fundou também, pessoalmente, a igreja e o mosteiro de São Martinho de Tours, em Cedofeita, na atual cidade do Porto, na época um importante posto militar e administrativo (num burgo de nome Cale Castrum Novum – Castelo Novo de Cale –, havia um porto, Portus Cale ou Porto de Cale, atual Ribeira às margens do Rio Douro, cujo nome deu origem ao nome Portugal; Porto foi a capital, isto é, residência real, centro administrativo e sede diocesana do final do domínio suevo).

Em 561-563 Martinho convocou o 1° Concílio de Braga, quando proibiu que se cantassem muitos dos hinos e cantos de caráter popular nas missas e celebrações; com o tempo, a música litúrgica foi sendo fixada no Cantochão (do qual deriva o Canto Gregoriano, forma musical oficial da Igreja, próprio para as celebrações litúrgicas, pois eleva com serenidade a mente e a alma a Deus, sem distrações). Em 572, houve o 2° Concílio de Braga, e nesta ocasião ele registrou: “Com a ajuda da graça de Deus, nenhuma dúvida há sobre a unidade e retidão da fé nesta província”. De fato, um escrito de 580, o “Paroquial Suévico” relaciona 13 dioceses e 134 paróquias na região, embora também alguns “pagus”, paróquias arianas ou não cristãs.

São Martinho foi um profícuo e profundo escritor, abordando temas morais, teológicos, canônicos e monásticos. Além de “Escritos canônicos e litúrgicos”, outras das suas principais obras são: Aegyptiorum Patrum Sententiae (“Sentenças dos Padres Egípcios”, que traduziu e comentou), De Correctione Rusticorum (“Da Correção dos Rústicos”, livro simples e claro para a evangelização dos pagãos – não confundir com “Como Catequizar os Rudes”, de Santo Agostinho), Formula Vitae Honestae (“Fórmula da Vida Honesta”, durante séculos atribuído a Sêneca e dirigido ao rei suevo, enfatizando a Justiça aos responsáveis pelo governo), De Moribus (“Tratado dos Costumes”), De ira (“Da Ira”, comentário ao livro homônimo de Sêneca, e no mesmo espírito do ditado latino ira furor brevis est, de Horácio – “a ira é uma loucura de curta duração”), Pro Repellenda Jactantia (“Para Repelir a Jactância”), Item de Superbia (“Acerca da Soberba”), Exhortatio Humilitatis (“Exortação da Humildade”).

Importantíssima contribuição de Martinho na história da cultura e língua portuguesas foi a adoção dos atuais nomes dos dias da semana: segunda-feira, terça-feira, etc.. Até então, todas as línguas utilizavam nomes de deuses pagãos para este fim, relacionados aos astros, o que se mantém até hoje exceto no Português; na origem, Latim Lunae dies para o “dia da lua”, depois Espanhol Martes para o “dia de Marte”, Inglês Saturday para o “dia de Saturno”, etc.. Martinho utilizou uma nomenclatura escolástica, Feria ou Festa (de onde “feriado”), no caso, litúrgica: Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies, o sábado em referência ao Shabat sagrado dos judeus, que no Catolicismo foi substituído pelo “dia do Senhor (Dominus)”, o domingo. Assim a perspectiva pagã foi substituída no povo católico pela referência ao Deus Uno e Trino, o Qual nos concede o tempo. Como o 1° Concílio de Braga, quando foi feita esta substituição, era um concílio local e não de toda a Igreja, as demais línguas neolatinas permaneceram com as origens pagãs. Os mais antigos documentos em Português já trazem a mudança, uma mostra de que a partir dos suevos latinizados já houve a compreensão da maior dignidade desta nomenclatura para os fiéis católicos.

De fato, dentre os povos germânicos invasores, os suevos são reconhecidos como os de maior influência e importância para a formação de Portugal, tanto geograficamente quanto dos nomes e diversos aspectos da cultura local, bem como da sua base genética. Também São Martinho de Braga, pela sua obra de evangelização, pelos seus escritos, pelo impulso cultural do mosteiro de Dume, que cresceu por toda a Idade Média, marcou profundamente a cristianização, história e cultura da Península Ibérica, notadamente Portugal.

 São Martinho faleceu em 20 de março de 579. Escreveu seu próprio epitáfio, honrando seu patrono particular São Martinho de Tours, que termina assim: “Tendo-te seguido, ó Patrono, eu, o teu servo Martinho, igual em nome que não em mérito, repouso agora aqui na paz de Cristo”. É também conhecido como Martinho de Braga ou Martinho de Dume, Martinho Dumiense, Martinho Bracarense ou Martinho da Panônia. É considerado Apóstolo dos Suevos e principal padroeiro da arquidiocese de Braga. A sua festa litúrgica oficial, no Calendário Romano, é a 5 de dezembro, mas a 22 de outubro na diocese de Braga e 20 de março em Portugal e na igreja Ortodoxa, que também o reconhece como santo.
 Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:
A imensa obra de São Martinho de Braga é centrada na sabedoria, santidade e apostolado a partir dos mosteiros, um método extremamente eficaz de fixar a vida católica numa região, pois como centros de paz, virtudes, conhecimento, espiritualidade, atraem e enraízam a Palavra de Deus entre os povos. Durante toda a Idade Média ocidental, este foi o meio mais importante para difundir e estabelecer a Igreja nas ruínas do antigo Império Romano e no caos dos invasores bárbaros. Mas o seu zelo também deu atenção à Liturgia, já naquela época sofrendo alguns abusos; a música na Missa tem um propósito específico relacionado à oração, e não à simples manifestação de alegria, por exemplo. Um zelo semelhante certamente faria muito bem à espiritualidade do povo de Deus, nos dias atuais. Não menos importante é a sua contribuição para a nomeação, mais adequada do ponto de vista da cultura católica, dos dias da semana em Português. Algo muito interessante para ser adotado no orbe da Igreja. Pelos próprios títulos dos seus livros, que indicam suas exortações para a necessidade da humildade para vencer a soberba, a jactância e a ira, e reformular os costumes, pode-se seguir um itinerário de busca da perfeição espiritual, que é o cerne da vida humana: um exemplo a ser imitado por todos os fiéis, assim como ele se espelhou em São Martinho de Tours.

Oração:
Senhor Deus, que na Vossa infinita bondade nos concedestes o tempo, de modo a que todo dia possa ser vivido para Vós e para o bem que devemos fazer nesta vida, concedei-nos por intercessão de São Martinho de Braga conhecer e praticar com amor a Vossa Doutrina, Vossos Mandamentos e Sacramentos, que são a verdadeira fórmula pra a vida honesta que precisamos ter para corrigir os nossos rústicos pecados e então, iguais no nome de irmãos, com o Cristo, embora não iguais nos Seus méritos, repousemos infinitamente na Vossa paz. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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