Ano Vocacional
“Vocação: Graça e Missão”
“Vocação: Graça e Missão” é o tema do Ano Vocacional, que teve início no dia 20 de novembro de 2022 e terminará em 26 de novembro de 2023. O tema se fundamenta na afirmação de que “a vocação aparece realmente como um dom de graça e de aliança, com o mais belo e precioso segredo de nossa liberdade”.
Advento e Natal é sem dúvida, um tempo propício para confrontar o nosso chamado e a nossa resposta diante do Verbo que se fez carne, obediente ao Pai, traz todo o caminho vocacional. Há um chamado que contém uma lógica divina, não se deixa condicionar por méritos, estudos, família, riqueza, nem mesmo por sermos melhores ou piores. O chamado se dá apenas pelo amor gratuito de Deus, que tem no seu filho Jesus, a missão de salvar, libertar e estabelecer o seu Reino neste mundo.
Advento e Natal é sem dúvida, um tempo propício para confrontar o nosso chamado
Ao fazermos memória dos chamados de Deus na história, a partir da experiência do Povo hebreu, vamos constatando um modo divino de fazer história, desde às primeiras páginas da Bíblia, vamos percebendo a vocação de Deus: criar e dar vida. Seguindo em cada página da Bíblia, chamando homens e mulheres para a vocação à vida, “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26). Criados para amar como Deus, fundamental para todos os chamados.
Deus precisa de um povo para poder manifestar-se na história. Gênesis 12, apresenta a vocação de Abraão, o faz sair de sua terra e quer formar um povo, para que nele todas as famílias da terra fossem abençoadas. Na nossa lógica, Deus buscaria um casal jovem, saudável para gerar muitos filhos, porém Deus chama um velho, casado com uma mulher idosa, estéril, para dar início à formação de um povo. Abraão escutou e obedeceu, conferindo sua vocação na fé. E, assim, vamos verificando na história do Povo de Deus, chamados e respostas que possibilitam a ação de Deus na história. Toda a vocação verdadeira está sempre unida à vontade de Deus de libertar o seu povo de toda e qualquer escravidão, de toda ameaça à vida, à sua criação.
Em Êxodo capítulo 3, para Deus responder ao clamor de seu povo que estava sofrendo na miséria da escravidão, chama a Moisés para uma missão específica, o Deus que chama tem olhos, ouvidos e conhece o sofrimento do seu povo (cf. Ex 3,7-10). Aquele que é chamado sente-se frágil, pobre, incapaz de cumprir a missão. Aquele que chama não desiste, e mostra que estar junto, não deixa aqueles que chama sozinhos, Ele vai junto (cf. Ex 3,15).
A verdadeira vocação está no mistério de Deus, o qual manifesta-se na história da salvação. “Sejam santos, porque eu, Javé, o Deus de vocês, sou santo” (Lev 19,1). Assim, vamos constatando que toda Bíblia é a narração de homens e mulheres, que ouvindo obedeceram a Deus, e respondendo ao chamado foram construindo a história para a realização da promessa, na Encarnação do Verbo.
Como profetas vamos conhecendo os critérios de Deus, de uma verdadeira vocação. Os falsos profetas, que abandonaram, traindo sua vocação, colocaram-se a serviço dos Reis, do poder e do dinheiro, abandonando o caminho da missão de levar o povo à adoração, escuta e obediência do Deus Vivo e verdadeiro, deixando de profetizar o que diz Javé, para servirem ao poder que destrói a vida, abandonando o pobre, o órfão e a viúva. Trocaram a voz de Deus pela voz dos poderosos.
O chamado dá-se no tempo de Deus. Abraão, na velhice; Samuel, na infância: “Vá, e fique deitado. Se alguém chamar você de novo, diga: “Fala, Javé, que o Teu servo escuta” (Sm 3,8). No chamado está contido o caminho e o endereço da missão. Sempre nos surpreende, como aquele que chama e envia não esconde de nós os desafios, dificuldades e consequências do chamado aceito. Toda vocação verdadeira nasce da liberdade de quem chama e de quem é chamado, porque a vocação está dentro de um projeto ao qual somos chamados para participar da sua construção. Podemos verificar isso, de uma maneira clara na paixão que os verdadeiros profetas manifestaram em suas vidas, para defender e garantir o projeto do Deus vivo.
Todos somos chamados na nossa humanidade, com limites e imperfeições.
Todos somos chamados na nossa humanidade, com limites e imperfeições. Na realidade de nossa história concreta. O medo e o desânimo estão contidos naquilo que somos e temos. O profeta Elias, no cumprimento da sua missão, fruto do seu Sim ao chamado, mostra suas debilidades e medos: “Elias ficou com medo, levantou-se e partiu para se salvar… Chega Javé, tira a minha vida… deitou-se debaixo da árvore e dormiu” (cf. 1Rs 19,3-5). Aquele que chama nunca nos abandona, é fiel, e nos alimenta para o caminho a ser feito pela vocação dada como graça e missão. “Levante-se e coma, pois o caminho é superior às suas forças. Obedecendo, Elias vence o deserto, chegando ao encontro com aquele que o chamou e enviou” (cf. 1Rs 19,5-8).
A verdadeira vocação é testada, purificada, provada no caminho. Nosso amigo Jonas é uma prova real. Chamado, aceita a missão. Porém, desobedece, desviando-se do projeto de Deus de salvar Nínive. Aquele que chama, envia e dá o endereço da missão, pois a missão é Dele e não do vocacionado, que deixando-se vencer pela tentação, quer fazer a sua própria missão, não a de Deus.
Esta sintonia não se pode perder. A missão é de Deus e não minha. Preciso cuidar, para não falsear a missão que é de Deus. A tentação de escutar e obedecer aos ídolos de cada época, buscando benécias, é muito forte em todos os tempos.
Deixemo-nos provocar neste tempo do Advento e Natal, preparando e celebrando o nascimento de Jesus, que assumindo nossa humanidade manifestou a Vocação de Deus: bondade, justiça, misericórdia = AMOR.
Dom Valentim Fagundes de Meneses, msc